No alto da parede, um mosaico de azulejos metálicos brilha com a luz dos candelabros suspensos no teto. Mas isto não compete com o mosaico vivo, logo abaixo.
Dispostas em camadas nas plataformas, lado a lado, estão 120 pessoas de todas as cores, etnias, formas e idades, a maioria delas nua. A performance, intitulada “Delirium Constructions”, é uma fantasia carnal enquadrada em colunas de pedra, uma enciclopédia da humanidade.
Tudo acontece no Skylight One Hanson, um majestoso espaço Art Deco no prédio do antigo Williamsburgh Savings Bank, no centro do Brooklyn.
Sarah Small, de 32 anos, fotógrafa nascida em Washington, é quem criou este projeto artístico de performance massiva que ela chama de "Tableau Vivant", ou quadro vivo - um procedimento popular na era vitoriana como forma de recriar obras visuais famosas, muitas vezes com um viés erótico. A obra de Small é tanto um retorno a isso, quanto uma experiência em romper os limites modernos de privacidade.
“Delirium Constructions” foi, de acordo com notas do programa, inspirada pela visita de Samall às galerias de pintura francesa e italiana no Louvre, que se impressionou com a dramaticidade dos agrupamentos de personagens nas pinturas. E assim como nas pinturas, a performance apresenta pessoas agrupadas em diversos estados de reclinamento. Meio distantes, frias, fazendo caretas. Duas jovens louras alinhadas juntas, uma em topless, a outra não. O centro da tela é um par de nus espetaculares: uma mulher muito obesa se alastra ao lado de um homem magro enrolado da cabeça aos joelhos.
VIDEO: 'DELIRIUM CONSTRUCTIONS' NO SKYLIGHT ONE HANSON (COMPLETO), EM MAIO DE 2011
Small ensaiou seus modelos de arte para o que se traduz num movimento de fusão entre música, gesto e dois casamentos - no ponto alto da performance, dois casamentos legais são oficializados. Parte homenagem à história da arte, parte celebração da comunhão, parte uma experiência radical, o ‘quadro vivo’ de Samall revela o processo evolutivo da criação da arte e de comunidade, pois leva à reflexão das verdades primarias e pungentes sobre uma saudade atemporal da humanidade, de encontrar a conexão dentro de cada um e de um com o outro.
A peça começa com Shara Worden cantando "Deh tardar vieni non" da obra “Marriage of Figaro”, de Mozart. No início da encenação os figurantes, que à primeira vista parecem estar dormindo, são convocados para a vida por Small, que anda entre eles, apontando como um condutor. Então, eles executam gestos repetitivos até Sarah direcioná-los para um canto uníssono e movimentos rigidamente sincronizados.
Outra cantora, Abigail Wright, nua, também realiza uma participação extensa, ao longo de toda a performance e termina a peça, sozinha, com "C 'est l'amour vainqueur" de Offenbach.
Tudo sobre este projeto atual é enorme: a catedral como espaço de arte decorativa; o número de modelos envolvidos, todos voluntários; os patrocinadores, incluindo Michael Huffington. Até o título é grande: “Tableau Vivant of the Delirium Constructions: A Live Exploration of Implausible Interaction.”
Small também lidera um um quarteto vocal de cappella, dos Balcãs, chamado ‘Black Sea Hotel’, que participa no cadafalso junto com os modelos e com um quarteto de cordas. Ainda, ela traz um diretor musical, um diretor de palco e um coreógrafo.
Enquanto isso, uma equipe de filmagem fica ao redor, planejando o documentário sobre o seu trabalho.
Small, graduada na Rhode Island School of Design, vem ganhando reconhecimento pelo seu trabalho com a câmera - suas fotos apareceram nas publicações Life, Vogue e Rolling Stone, e foram exibidas em galerias de todo o país, assim como na Europa e na Ásia. Em 2009 ela começou a compor instalações vivas para promover a série fotográfica, em curso, que ela chamou de " Delirium Constructions " - retratos cuidadosamente focados, que capturavam emoção dos seus sujeitos.
BIOVIDEO
Nos últimos meses, Sarah e sua equipe têm se dedicado à planejar e concluir o documentário sobre o seu trabalho, ao mesmo tempo em que preparam para uma turnê internacional da performance ao vivo.
O filme, atualmente intitulado ‘The Delirium Constructions’, pretende conduzir o espectador a uma viagem reveladora através de um processo interativo de criação da obra de Small: ‘Tableau Vivant of the Delirium Constructions’. O documentário é impulsionado pelas interações pessoais de Small com o elenco de 120 modelos do Tableau Vivant e a equipe criativa ao longo de dois anos.
Após o lançamento do longa-metragem, Small e sua equipe vão percorrer o mundo com sua performance, e pretendem atuar em cidades como Bruxelas, Tel Aviv, Berlim, Paris e Sydney, em 2013. Oficializando um casamento em cada país, ao longo de sua temporada internacional, Small continuará a unir a realidade e a performance. Enquanto continua a documentar, cinematograficamente, o processo evolutivo de construção dessas obras para a sequência fílmica, Small examinará rituais específicos da cultura do casamento, em paralelo com os estudos - em curso - sobre as questões das relações de intimidade, em todo o mundo.
VIDEO: TEASER DO TABLEAU VIVANT
Tableau Vivant of The Delirium Constructions (Excerpt) - One Main Street, 2010 from The Delirium Constructions on Vimeo.
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