16 novembro 2011

ARTE E MEIO AMBIENTE: A ‘EVOLUÇÃO SILENCIOSA’ DE JASON DECAIRES TAYLOR


Debaixo das águas cristalinas de Cancun, no México, centenas de esculturas atraem nova vida marinha ao fundo do oceano caribenho. É um trabalho de arte confluente com a conservação ambiental, em que a instalação “Silent Evolution”, de Jason deCaires Taylor, se transforma em recifes artificiais para milhares de espécies marinhas


Filho de pai inglês e mãe Guyanesa, criado entre a Europa e a Ásia, Jason passou grande parte da infância explorando e admirando os recifes de corais da Malásia, onde desenvolveu seu amor pela natureza e pelo mar. Mais tarde foi professor de mergulho submarino em diversos lugares do mundo, quando adquiriu o interesse pela conservação do meio ambiente. Além do mergulho, Taylor ainda explorou a fotografia e o grafite. Formado em artes pelo London Institute of Arts, ele se especializou em escultura e cerâmica.


Hoje, o meio inglês-meio guiano esculpe figuras humanas e naturezas mortas em tamanho natural, de cimento marinho, que são colocadas no fundo do mar, formando “galerias de arte submarinas”, e ficou famoso. Taylor criou o que ele chama de um museu de arte submarino. É dele a criação do primeiro parque de esculturas submarino, em 2006, localizado nas águas de Granada.

VÍDEO: O MUSEU SUBAQUÁTICO DE ARTE



Essas peças, no entanto, por estarem sob a água aparentam ser 25% maiores. No mar, a luz incide de forma diferente; o movimento da água e as partículas nela contidas modificam a percepção dos objetos e a natureza age sobre o material de forma imprevisível. Com o tempo, as esculturas começam a agregar elementos da vida marinha em sua superfície, e se integram ao ambiente.


A mais recente exposição do artista, realizada em 2010 nas águas de Cancun, chama-se ‘Silent Evolution’, e está localizada no mar do Parque Nacional Costa Ocidental de Isla Mujeres, Punta Cancún e Punta Nizuc, na costa do México.
São 400 esculturas instaladas, numa área de 420m², entre homens, mulheres e crianças – com feições impressionantes, que expressam preocupação com os problemas ambientais, mas de uma forma otimista, com esperança.
Os personagens da instalação são pessoas comuns, mas especialmente mexicanos, como a freira Rosario, de 85 anos, ou o pequeno Santiago, um menino de três anos. Há também pescadores, acrobatas, carpinteiros, uma professora de ioga, um contador...

JASON DeCAIRES TAYLOR ON MEGA STRUCTURES DISCOVERY CHANNEL



Esse é o quarto projeto do escultor-mergulhador em Cancun, mas sem dúvida nenhuma, o maior deles. A produção das 400 esculturas levou cerca de um ano e meio, junto com quatro assistentes, além de uma equipe de biólogos, engenheiros e outros mergulhadores. Elas foram feitas com um tipo especial de cimento marinho, que tem pH neutro e é muito mais resistente que o cimento normal. Além disso, foram fixados nas esculturas extratos de corais vivos, uma técnica que estimula ainda mais o crescimento do coral.

VIDEO: BUILDING THE WORLD'S LARGEST UNDERWATER SCULPTURE



O objetivo do projeto é transformar as esculturas em recifes artificiais, por causa do avanço do processo de degradação que ocorre devido ao enorme fluxo de turistas – aproximadamente 750 mil por ano. Com a nova área de mergulho ao redor da instalação, o parque nacional caribenho poderá ser poupado e com o tempo, regenerar a vida marinha. Taylor afirma que “que aproximadamente mil peixes já adotaram o local como habitat, inclusive uma espécie bastante rara que não víamos há muito tempo na região”. O projeto é uma iniciativa conjunta entre o artista, o Parque Nacional Marinho e a Associação Náutica de Cancun.


Os especialistas do projeto esclarecem que apenas 10% a 15% do solo submarino têm sedimentos sólidos para a formação de recifes naturais. Deste modo, para estimular o crescimento e aumento dos recifes, áreas artificiais têm sido criadas com material durável e ambientalmente seguro. E esses projetos têm se revelado bastante eficientes, ajudando a equilibrar o ecossistema marinho e a minimizar a depredação dos recifes naturais. Alguns pesquisadores prevêem que até 2050, cerca de 80% dos recifes naturais do planeta irão desaparecer.


Segundo o artista, “há planos de levar o projeto para outros lugares, entretanto, o planejamento e a realização levam bastante tempo. É necessário conseguir a autorização dos órgãos ambientais do local, fazer uma extensa pesquisa para descobrir onde é a região mais apropriada para se colocar as esculturas. Já houve contato de outras entidades interessadas, mas ainda estamos estudando as possibilidades.”


O processo de vivenciar a arte de uma galeria tradicional e submarina é descrito com detalhes em seu site. A execução, absolutamente incrível, funde arte, vida e o mar, numa estética em constante evolução, texturizados pelo tempo.
LINK EXTERNO: www.underwatersculpture.com


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