Na semana passada, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgaram um relatório que indica que a produção de biocombustíveis pode provocar um aumento no preço dos alimentos.
"Este fenômeno [de uso de alimentos como combustíveis] vai fazer subir os preços dos cereais e, de forma indireta, através do custo mais alto das rações, também dos produtos da criação animal", afirma o relatório Perspectivas Agrícolas para 2007-2016.
O presidente Lula afirmou nesta quinta-feira (05/07), em Bruxelas, que o Brasil está desenvolvendo um programa de certificação “que permitirá mostrar que toda cadeia de produção dos biocombustíveis no país respeita critérios ambientais, sociais e trabalhistas”.
Diante de uma platéia que reuniu ministros, estudiosos, empresários e organizações não governamentais, o presidente negou as maiores preocupações levantadas em relação ao aumento da produção de biocombustíveis no Brasil.
“A experiência brasileira mostra ser incorreta a oposição entre uma agricultura voltada para a produção de alimentos e outra para a produção de energia. A fome no meu país diminuiu no mesmo período em que aumentou o uso dos biocombustíveis. O plantio de cana-de-açúcar não comprometeu ou deslocou a produção de alimentos”, afirmou.
“Todos sabemos que não há escassez de alimentos no mundo, mas escassez de renda capaz de garantir o acesso das populações mais pobres ao que comer. Não estamos aqui escolhendo entre comida e energia.”
Contra as críticas de que a expansão da produção de cana-de-açúcar poderia ameaçar a floresta amazônica, Lula disse que “o cultivo da cana no Brasil ocupa menos de 10% da área cultivada do país, ou seja, menos de 0,4% do território nacional”.
“Essa área, é bom que se diga, fica muito distante da Amazônia.”
Lula também defendeu a criação de padrões internacionais de normas técnicas sobre o etanol e o biodiesel, o que abriria caminho para que esses combustíveis alternativos sejam considerados commodities e possam ser negociados internacionalmente, com cotação em Bolsa.
Para o presidente, a inclusão dos biocombustíveis na matriz energética internacional também ajudaria a “democratizar” o acesso a fontes de energia.
"No mais humilde dos países, qualquer um tem a tecnologia e o conhecimento para cavar um buraco de 30 centímetros e semear uma planta oleaginosa."
“Estaremos reduzindo as assimetrias e desigualdades entre os países consumidores e produtores de energia, e prevenindo potenciais conflitos derivados da competição por recursos energéticos finitos”, afirmou.
Sem citar nomes, Lula ressaltou que os mesmos governos que defendem publicamente seus compromissos com desenvolvimento sustentável e com a redução do efeito estufa não podem gravar suas importações com pesadas alíquotas que não aplicam ao petróleo.
A mensagem pode ter sido dirigida a Bruxelas, que atualmente aplica uma tarifa de importação de 19,2 euros (cerca de R$ 50) a cada cem litros de etanol importado do Brasil.
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