27 abril 2011

FOTOGRAFIA E VIDEO-ARTE: ROSÂNGELA RENNÓ


“A expansão da imagem, na obra de Rennó, atinge outro patamar de complexidade a partir dos trabalhos com sua coleção de textos de jornal que fazem referência à fotografia. As várias séries que constituem o projeto em processo Arquivo universal (desde 1992) apresentam textos usados e manipulados como fotografias.
Os critérios para seleção e edição dos textos são os mesmos usados para as fotografias. Assim como na imagem, a manipulação dos textos ocorre no sentido de eliminar especificidades e referências espaço-temporais. Em entrevista ao crítico e curador Paulo Herkenhoff, Rosângela afirma que sob orientação do professor Eduardo Peñuela, na USP, “houve um aguçamento da vontade de trabalhar com jogos intertextuais. Daí nasceu o interesse pelo texto substituindo a imagem”.

Assim como o interesse pela intertextualidade visual já estava presente nos anos de formação, a experiência com o cinema também é uma condição inerente ao trabalho da artista. Mesmo que a obra em vídeo só viesse a acontecer mais adiante, a partir de Vera Cruz (2000) e Espelho diário (2001), as questões relacionadas à imagem em movimento que surgiram nas aulas de cinema foram imediatamente incorporadas à pesquisa artística de Rennó.

ENTREVISTA COM ROSÂNGELA RENNÓ



Elas aparecem já em uma de suas primeiras individuais, Anti-cinema, realizada na Galeria Corpo, em Belo Horizonte, em 1989. Na exposição, alguns trabalhos prestavam homenagem a Muybridge e Etiene-Jules Marey, os pais da fotografia seqüencial, e aos artistas Marcel Duchamp e Jan Dibbets. Tratava-se de uma série de fotografias montadas sobre discos LP, que deveriam ser “rodadas” em tocadiscos antigos. Outras obras dialogavam diretamente com a matéria-prima do cinema: uma série de fotografias de grande formato, feitas a partir dos fotogramas de cinema achados no lixo da ECA-USP. Outro objeto, Detector de primaveras (1989), feito com um antigo flash de bulbo, girava e piscava sobre um pedestal e completava a reflexão sobre a interlocução entre as artes visuais, a fotografia e o cinema.”

Paula Alzugaray

Aqui: http://www.rosangelarenno.com.br/uploads/File/alzugarayPort.pdf

25 abril 2011

EDGARD VARESE E LE CORBUSIER: POEME-ELECTRONIQUE, 1958


O Poema Eletrônico foi apresentado, pela primeira vez, na Feira Mundial de 1958, em Bruxelas, através de 425 auto-falantes instalados em todo o pavilhão Philips. Agrupados em colméias, os conjuntos de alto-falantes criavam rotas de som que permitia a música correr em diversas direções, destacando certas regiões do pavilhão. Seu posicionamento e a concepção do edifício deu aos espectadores a sensação de estarem alojados dentro de uma concha prateada de concreto.

Um modelo gigante de um átomo pendia do teto e o som e imagem, na sala lotada, foram certamente chocantes e devastadores para todos os que testemunharam o espetáculo. Henry Miller o descreveu como um “estratosférico colosso de som”.


Quando a Philips (empresa de eletrônicos) abordou Le Corbusier para projetar um edifício para a feira, ele respondeu: "Não vou fazer um pavilhão para você (Philips), mas um poema eletrônico e um recipiente contendo um poema; luz, cor, imagem , ritmo e som, combinados em uma síntese orgânica "

Na sua auto-assumida condição de diretor do projeto, Le Corbusier exigiu a participação do compositor francês naturalizado americano Edgard Varèse (1883-1965), excluindo outros músicos inicialmente considerados, como Benjamin Britten (1913-1976), compositor, pianista e maestro e britânico.


A proposta de Le Corbusier, para participar no Poème Électronique foi imediatamente aceita por Varèse. Constituía não só um valioso encargo, como também a possibilidade de dispor do laboratório Philips em Eindhoven, com condições que até então não tinha podido sonhar para produzir música eletrônica.

A composição Poème Électronique foi concebida segundo o critério ‘varesiano’ de son organisée (som organizado), distinguindo-se da música de estrutura melódica. Consistia numa sequência gravada que incluía sons gerados eletronicamente ou naturais (música concreta). O Poème alcançou um importante reconhecimento e é considerado uma obra importante do último período de Varèse.


Simultaneamente com a música de Varèse, e sem nenhum critério de sincronização, projetava-se a sequência visual concebida por Le Corbusier, que abrangia desde a gênese do mundo até a nova civilização exemplificada em obras do próprio arquiteto.



A procura de uma síntese das artes faz parte da agenda cultural posterior à II Guerra Mundial. O Pavilhão Philips representa um esforço evidente de Le Corbusier em realizar uma obra de arte total, utilizando tecnologia de vanguarda e apresentando-se como um artista que ultrapassa os limites da arquitetura, das artes visuais e da literatura, mas também reflete uma abertura para a música. Mais ou menos simultaneamente com a concepção do seu Le Modulor, de certo modo similar a uma escala musical, Le Corbusier desenvolve o seu conceito de ‘Acústica plástica’.

Link externo: http://www.cca.qc.ca/en/study-centre/575-scholar-s-choice-the-philips-pavilion-at-the-brussels-worlds

22 abril 2011

PARTY MONSTER: THE SHOCKUMENTARY


Party Monster: The Shockumentary é um filme documentário de 1998, que relata o sucesso e o declínio do fenômeno "Club Kids" nas festas de Nova York no final da década de 80, a vida do ‘celebutante’ e promoter Michael Alig, e o assassinato brutal do traficante de drogas Anjo Melendez pelo próprio Alig.


Dando adeus à South Bend, Indiana, Alig chegou à Nova York, se tornou um estudante marginal e estabeleceu a reputação de promotor de festas durante os anos 80, aspirando tomar o lugar de Andy Warhol.


Suas festas se caracterizavam pelos figurinos bizarros, performances, e pela inclinação sexual, mas elas acabaram por se tornarem caóticas quando começou a ocorrer o abuso de drogas pesadas como heroína, crack, e tranqüilizantes de animais, o que chamou a atenção da lei.


No início de 1996, o traficante Anjo Melendez desapareceu, e em seguida um cadáver esquartejado apareceu flutuando dentro de uma caixa perto Staten Island; meses depois Alig e um companheiro de quarto foram presos.

TRAILER: PARTY MONSTER – SHOCKUMENTARY



DOCUMENTÁRIO COMPLETO: PARTY MONSTER – SHOCKUMENTARY



Para contar os detalhes sombrios deste episódio, os cineastas Fenton Bailey e Randy Barbato combinaram imagens de uma série de entrevistas - com Alig na prisão, St. James, observadores da cena como Michael Musto e uma série de outros ‘club kids - com imagens de arquivo das festas e de reencenações dramáticas.


Simulações encenadas são habilmente integradas com imagens reais para juntas, completar um quebra-cabeça e formar o retrato de Michael Alig, que cumpre pena por homicídio culposo, inclusive quando este filme foi feito.


Produzido pela World of Wonder e baseado em parte no livro de memórias de James St. James - “Disco Bloodbath”, este filme documentário foi parcialmente financiado pelo Cinemax e pelo canal britânico Channel 4, com um tempo de execução de 57 minutos, calculado para intervalos de tempo de TV.


Party Monster: The Shockumentary foi apresentado em uma série de festivais de cinema, incluindo o Sundance Film Festival de 1999.
O livro e este filme documentário serviram de inspiração e base para o filme longa metragem, também chamado de “Party Monster”, lançado em 2003 pelos mesmos diretores.

PARTY MONSTER SOUNDTRACK: ‘MONEY, SUCCESS, FAME, GLAMOUR’ - FELIX DA HOUSECAT



Ficha técnica de Party Monster: The Shockumentary

Duração: 59 minutos
Direção: Fenton Bailey, Randy Barbato
Elenco: Elke Alig (Herself) Gitsie (Herself) James St. James (Himself) Keoki (Himself) Michael Alig (Himself)
Produtores: Fenton Bailey, Randy Barbato
País de Origem: Estados Unidos da América

21 abril 2011

O HOTEL-CASSINO MARINA BAY SANDS E O SANDS SKYPARK

VIDEO: MARINA BAY SANDS EXPERIENCE



Foi inaugurado em Cingapura, em junho de 2010, o impressionante hotel-cassino Marina Bay Sands da cadeia de hotéis Sands de Las Vegas, o primeiro cassino do país. Na construção do complexo foram investidos cerca 4 bilhões de libras esterlinas e entrou para o ranking como a construção de cassino mais cara do mundo.

DOCUMENTÁRIO: SINGAPORE MEGA-STRUCTURE - SINGAPORE'S VEGAS



O empreendimento criou milhares de postos de trabalho diretos, mas também incrementou o setor de entretenimento. Neste sentido, as contas públicas da cidade-estado vêm sendo largamente impactadas pelo aumento na receita.


O complexo do ‘Marina Bay Sands’, localizado na região sul de Cingapura, é composto por três torres com 55 andares cada e 2.500 acomodações; um centro de convenções com cerca de 120 mil m² - dividido em três grandes volumes futuristas; um shopping center (The Shoppes Mall); 2 teatros/auditórios; um Museu de Arte e Ciência - no formato de uma flor de lótus; seis restaurantes de chefs conceituados; um enorme cassino com dois pavilhões suspensos para 1.000 mesas de jogo, além de 1.400 máquinas de caça-níquel; e um parque na cobertura – o Sands Skypark. Tudo sobre a orla da baía artificial, construída especialmente para a criação do distrito de Marina Bay. O projeto leva a assinatura do arquiteto israelense Moshe Safdie e foi desenvolvido a pedido do governo do país.


O ponto alto do hotel-cassino Marina Bay Sands é a sua cobertura, o Sands Skypark, com 340 metros de comprimento e capacidade para 3.900 pessoas. Localizada no 55º andar, as três torres são interligadas por um magnífico terraço a céu aberto em seu topo, compondo um espaço de lazer onde os hóspedes podem usufruir de um paisagismo com 2550 tipos de árvores, banheiras com hidromassagem, uma enorme piscina de borda infinita, além de nightclub e 2 restaurantes com chefs célebres como Waku Ghin e Guy Savoy. Um observatório público 360° permite admirar toda a beleza e modernidade de Cingapura por todos os ângulos.


Com 150 metros de comprimento (três vezes o tamanho de uma piscina olímpica) e localizada a 200 metros do solo, a piscina se expande pela cobertura das três torres do hotel que possui o formato de um barco - um verdadeiro desafio da engenharia. A sua plataforma é mais comprida do que a Torre Eiffel deitada.
VIDEO: MARINA BAY SANDS EM AGOSTO DE 2010



Ela é uma piscina “infinity” (sem borda), que dá a ilusão de terminar no horizonte, mas na verdade se derrama em uma grande ”bacia” onde a água é bombeada de volta. O segredo para que a piscina possa sustentar o enorme volume de 1.440 m³ de água é que sua estrutura é toda feita em aço inoxidável.

VIDEO: O MAKING-OF DO MARINA BAY SANDS



LINK EXTERNO: http://www.marinabaysands.com/


O DISTRITO DE MARINA BAY


Na década de 70, a cidade de Cingapura iniciou sua política de planejamento urbano. O local que o antigo mapa indicava como sendo a Bacia Telok Ayer foi inundado pelo rio Cingapura, dando origem à Marina Bay - uma ampla baía.


No processo de transposição, que removeu a Bacia Telok Ayer do mapa, o Rio de Cingapura passou à fluir para a baía, em vez de ir diretamente para o mar. Uma barragem foi concluída em 2008 para fazer da Marina Bay um reservatório de água potável.

VIDEO: O DISTRITO DE MARINA BAY



Localizada próxima à área Central, na região sul da cidade, o termo Marina Bay tem sido largamente anexado à evolução nas proximidades da baía. Hoje o Distrito de Marina Bay representa uma área, para um empreendimento amplo, que prevê a construção de todo um bairro, sofisticado, em frente ao distrito financeiro. É um destino de entretenimento 24 horas por dia / 7 dias por semana, além de ser uma área residencial de alto padrão em Cingapura.

INSIDE Singapore | May 2013 with Jamie Yeo


ARQUITETURA ALTERNATIVA EM HONG KONG


O arquiteto Gary Chang desafiou as leis da física e conseguiu colocar 24 cômodos distintos em um conjugado mínimo em Hong Kong, na China – cidade famosa pela superpopulação. O milagre se dá pelo uso de paredes móveis e prateleiras retráteis. Coube até uma banheira de hidromassagem.






15 abril 2011

ARTE & BIOTECNOLOGIA: ORLAN


As artes plásticas contemporâneas comportam, muitas vezes, uma mise-en-scène do artista e de sua própria imagem. Entre os inúmeros artistas que participam desse movimento, está a francesa Orlan, tanto original quanto desconcertante, ela usa freqüentemente seu próprio corpo como um suporte, ou como uma superfície de transformação e de criação.


É certo que muitos outros artistas lançaram mão do travestismo de si mesmos em suas criações artísticas, mas Orlan radicaliza essa metamorfose, levando-a até sua carne e submete, de algum modo, sua pele ao mesmo tratamento que se dá às roupas. Tudo acontece como se seu processo criador consistisse na transformação de seu próprio corpo num "corpo estranho".

VIDEO: NARCISSISM IS IMPORTANT - ORLAN



Nessa perspectiva, o percurso artístico de Orlan, inteiramente composto de auto-retratos, aparece tanto como um lugar de auto-reconhecimento (retrato de si), quanto como uma verdadeira "obra de alteridade" (retrato de um outro), pois por esse reconhecimento passa a maior estranheza, às vezes até mesmo o medo e o terror. O medo que se pode experimentar diante da abertura do corpo de Orlan nos remete à confrontação com a imagem do cadáver, que se impõe tanto como aquilo que está "mais distante de mim" como quanto ao que está "mais perto de mim".


O paradigma da melancolia vai então permitir a aproximação das múltiplas identificações ao morto e ao vivo, ao estranho e ao familiar, mas também o questionamento da própria psicanálise, seus legados e suas aberturas. O trabalho de Orlan apresenta-se, portanto, como uma estranha ressonância com a cura analítica quando ela se abre, da mesma forma, a um auto-reconhecimento pela confrontação com o que se tem de mais estranho.

Andréa Linhares. Psicanalista, professora na Universidade Paris VII – Denis Diderot.

VIDEO: DOCUMENTÁRIO COMPLETO - "ORLAN" - CARNAL ART (2001)



SK-INTERFACES, “The Harlequin's Coat”

Em 2008 uma exposição que reuniu esculturas feitas com pele humana despertou interesse e polêmica em uma galeria na cidade de Liverpool, na Inglaterra.


Ao todo, 15 artistas internacionais participaram da exposição, no Centro cultural FACT. A mostra Sk-interfaces incluiu um casaco feito com tecido cultivado em laboratório que mescla células humanas e de várias outras espécies. A obra, intitulada The Harlequin's Coat, é da artista ORLAN, conhecida por ter alterado cirurgicamente seu próprio rosto buscando faces associadas a culturas não-ocidentais.


A exposição abordou algumas das questões mais polêmicas da atualidade, fundindo ciência, tecnologia e arte. "O que antes era entendido como uma superfície que representa o limite do eu, entre o dentro e o fora, hoje pode ser visto como uma fronteira instável", diz Jens Hauser, curador da exposição.

VIDEO: THE HARLEQUIN’S COAT


ADRIANA VAREJÃO: CÂMARA DE ECOS



Em 2005, a Fondation Cartier, na Europa, apresentou uma exposição individual da artista Adriana Varejão, que se destaca como uma das mais importantes da criação contemporânea brasileira.
Neste vídeo a artista fala da sua obra, que tem referência no Barroco, na história colonial do Brasil, na literatura libertina e na música tradicional brasileira, de onde desenvolve a sua potência visual. Suas pinturas viscerais, abertas em carne viva, sua obra inspirada pela azulejaria tradicional portuguesa, criam uma tensão entre a pintura, escultura e arquitetura. Ainda, Adriana lida com a pintura ilusionista.

VIDEO: PHILIPPE SOLLERS & ADRIANA VAREJÃO



O texto do catálogo da exposição "Echo Chamber" foi assinado por Philippe Sollers.
Parte das obras apresentadas neste vídeo constitui sua mostra no Instituto Inhotim.

Catálogo:
Chambre d’échos/Câmara de Ecos
Fondation Cartier pour l’art contemporain/Actes Sud
ISBN: 972-8176-97-X (versão português/ inglês)
Texto: Philippe Sollers e Paulo Herkenhoff, entrevista com Hélène Kelmachter
Paris/Arles, 2005 - 112p

VIDEO: GALERIA ADRIANA VAREJÃO NO INHOTIM


09 abril 2011

PERFORMANCE E VIDEO: PAUL McCARTHY


Paul McCarthy nasceu na cidade de Salt Lake City, Utah, em 1945. Iniciou seus estudos na University of Utah, depois foi para a San Francisco Art Institute e se graduou em pintura. Em 1972, transferiu-se para a Universith of Southern California, onde estudou cinema, vídeo e arte, e recebeu o título de Mestre.
McCarthy ganhou reconhecimento com suas performances intensas, baseadas em vídeo, trabalhando com a temática dos tabus acerca do corpo, sexualidade e rituais de iniciação. Seu trabalho também aborda as questões da família, infância, violência e disfunção, se utilizando de fluidos corporais, tinta e comida para criar críticas elaboradas e grotescas na iconografia cultural.

PAUL MCCARTHY: "CLASS FOOL" (1976)



Desde o início dos anos 1970, sua produção consiste de performances registradas em vídeos e fotografias, além de esculturas em grande escala e instalações multimídia, todas elas inspiradas na indústria do entretenimento norte-americana.
Em 1972 McCarthy apresentou ‘Black and White Tapes’, que deriva de uma série de performances realizadas no seu estúdio de Los Angeles entre 1970 e 1975. Concebido para a câmera e executado exclusivamente para poucos espectadores, esta performance utiliza o vídeo para articular tanto o operador quanto o espaço do estúdio.



Paul é um artista que conduz o indivíduo na observação dos aspectos do cotidiano, sob um prisma de exageros, deformações e aberrações, provocando repulsa, indignação, rejeição e outros sentimentos de desagrado. Sua obra une o ritualístico e o profano, sangue e catchup.
Em 1974 apresentou “Sauce”, uma performance onde ele realizou uma gama extraordinária de atividades sexuais com uma garrafa de ketchup.

PAUL MCCARTHY: "BLACK & WHITE TAPES" | Art21 "Exclusive"



Em ‘Rocky’, de 1976, estão reunidos alguns dos principais interesses de McCarthy: a máscara, os fluidos corporais e a encenação para a câmera. Na performance o artista veste bermuda e luvas de boxe, e imita a maneira pela qual o ator Sylvester Stallone luta como o personagem Rocky no filme homônimo de 1976. Ele começa a bater na própria cabeça como que para limpar seus pensamentos e demonstrar sua virilidade, mas gradualmente o número e a violência dos golpes aumentam. Parece que o personagem está tendo uma luta imaginária com outra pessoa, mas como no filme, ela se transforma em uma luta consigo mesmo. Ele também esfrega ketchup de tomate sobre os seus órgãos genitais, às vezes se masturbando. Aos poucos o personagem atinge um estado de exaustão perto de inconsciência e cai no chão, mas continua a se debater.

PAUL MCCARTHY: "SAUCE" (1974)



Sobre seu trabalho declarou: "My work came out from kid's television in Los Angeles... My work is more about a clown than a shaman".
Participou das Bienais de Veneza, Carrara, Sidney, Gwanzju, Berlin e costuma se apresentar individualmente em espaços como a Whitney Biennale e o Museum of Modern Art. O artista é representado pela Hause & Wirth Galleries.
McCarthy conta freqüentemente com a colaboração do artista Mike Kelley.

PAUL MCCARTHY: "PAINTER" (1995)



08 abril 2011

ANTI-ARTE: O ACIONISMO VIENENSE


O acionismo vienense se desenvolveu em Viena entre 1965 e 1970, sendo protagonizado pelos artistas austríacos Herman Nitsch, Otto Mühl, Rudolf Schwarzkogler e Günter Brus e pelos escritores Gerhard Rühm e Oswald Wiener.
Se comparado com outros movimentos como os happenings, performances e fluxus, o acionismo vienense caracterizou-se pela forma mais violenta e agressiva de tratar o corpo na arte. Seu impacto influencia os dias atuais e reflete a negação da estética, do artista e da própria arte.


VÍDEO: ‘SELBSTBEMALUNG / SELBSTVERSTÜMMELUNG’ (1965), DE GÜNTER BRUS




O movimento acionista consistia no desmantelamento de tabus corporais e mentais, como ‘anti-arte'. Eles acreditavam realizar ações puristas, sem caráter estético, avesso à contemplação ou reflexão, buscando a libertação. O próprio corpo era o suporte da obra e os materiais utilizados eram instrumentos de corte e perfuração, mas principalmente sangue e secreções do próprio corpo-suporte. Assim, renunciava qualquer tipo de mercantilização.


No acionismo vienense, as facas se convertem em pincéis, o corpo em tela e as próprias secreções do corpo humano em pigmento, desse modo, o corpo é a pintura, a escultura e a expressão plástica. Em ação, os artistas se cortam, se mutilam e permitem a possibilidade da dimensão de uma arte terapêutica.


VÍDEO: TEASER NITSCH & CARAVAGGIO




Além de seu caráter terapêutico e ritualístico, o acionismo vienense também se mostra como uma arte com caráter político. Para os acionistas o melhor meio para a expressão de suas contestações em relação ao poder repressor do Estado e ao comportamento cínico da sociedade foi o corpo, a única coisa que pertence realmente ao homem e sobre o qual se deposita a cultura de forma mais intensa, formando os comportamentos e ideologias. Nesse sentido, ao colocar o corpo em destaque com o sentido da dor e da destruição, os acionistas, pela via do repúdio e do asco e na relação de alteridade, buscavam mobilizar o indivíduo para que voltasse o olhar para si mesmo e questionasse a sua identidade e a sua postura ética.


VÍDEO:OTTO MÜHL "MAMA UND PAPA" (MATERIALAKTION, 1964)




Os acionistas formavam um grupo de idéias heterogêneas no qual cada artista atuava a sua maneira em intensa colaboração com os demais. Em relação ao modo de atuação, as ações de Nitsch estarão mais voltadas para o sacrifício e o ritual, num ataque direto aos valores religiosos, enquanto as ações de Mühl se voltam mais para a liberação sexual pela via da perversão e do escárnio.



Para Nitsch, pintura, pigmento e sangue se misturam formando um só corpo, um corpo real, não pictórico. Considerando cada ação como um «acontecimento real», Nitsch rompe com os limites entre arte e realidade, entre as substâncias orgânicas e os elementos artísticos através de uma atitude repugnante, obscena e perversa que pretende motivar os sentidos do espectador sem que esse participe ativamente da ação.


VIDEO: HERMANN NITSCH,"ABREAKTIONSSPIEL" (1970)




As ações de Nitsch inicialmente se restringiam à pequenos espaços privados tendo como espectadores um número reduzido de amigos, posteriormente, apresenta seu trabalho em espaços públicos como museus e galerias e, a partir de 1971, comprará e converterá o castelo de Prinzendorf no Teatro de Orgias e Mistérios, no qual apresentou sua ação nº 80 de setenta e duas horas e, em 1998, a festa do seis dias, que pode ser considerada o ponto culminante de seu teatro.

VIDEO: DES ORGIEN MYSTERIEN THEATERS - HERMANN NITSCH, 1998




VIDEO: BLOODLINES - THE PAINTINGS OF HERMANN NITSCH



02 abril 2011

CINEMA DA TRANSGRESSÃO


O Cinema da transgressão é um termo cunhado por Nick Zedd, em 1985, para descrever a cidade de Nova York com o movimento de cinema underground, onde um grupo de artistas cineastas utilizou o valor de choque e do humor em seus trabalhos. Neste sentido, o movimento transgressor reflete as principais características de uma sociedade dominada pelas imagens e fascinada pelo espetáculo, mesmo que este espetáculo seja a confirmação da violência e do sexo hardcore.

VÍDEO: "She Had Her Gun All Ready" by VIVIENNE DICK WITH LYDIA LUNCH AND PAT PLACE (1978)



Esta nova forma de cinema, além da violência extrema - aparentemente gratuita - e do sexo - no seu formato mais chocante, traz características culturais do pós-punk como base experimental: a atmosfera sonora etérea, a ambientação árida e angustiante, a interpretação introspectiva e sombria, o existencialismo e a ilusão nas grandes metrópoles e, em alguns casos específicos, uma ironia macabra.

VIDEO: LYDIA LUNCH PARA O SONIC YOUTH - Death Valley 69



Os principais representantes neste movimento foram Nick Zedd, Kembra Pfahler, Casandra Stark, Tommy Turner, Richard Kern e Lydia Lunch, que no final de 1970 e meados dos anos 1980 começaram a fazer filmes de orçamento muito baixo, com câmeras de 8 mm. Um importante ensaio descrevendo a filosofia de Zedd sobre o cinema de transgressão é o Manifesto Cinema da Transgressão, publicado sob pseudônimo no Boletim de Cinema Underground (1984-90).

VIDEO: JON-MORITSUGU - Mommy Mommy Wheres my Brain, 1986



AQUI, ABAIXO, O MANIFESTO DO GRUPO “CINEMA OF TRANSGRESSION” ESCRITO POR NICK ZEDD EM 1984.

Nós, que temos violado as leis, as ordens e os deveres do avant-garde, transpomos, tranquilizamos e ofuscamos, através de um processo casual, uma carga de culpa imposta pela conveniência prática. Nós, abertamente, renunciamos e rejeitamos o esnobismo acadêmico entrincheirado que ergueu um monumento à preguiça conhecida como estruturalismo e começou a bloquear os cineastas que possuíam a visão para ver através desta charada.

VIDEO: TESSA HUGHES - Freeland - Baby Doll, 1982



Nós nos recusamos a tomar a abordagem fácil de criatividade cinematográfica, uma abordagem que arruinou o underground dos anos sessenta, quando o flagelo assumiu a escola de cinema. Legitimando toda manifestação irracional de filme superficial, realizada por uma geração equivocada de estudantes de cinema, a arte deprimente dos centros de mídia e os velhos críticos de cinema, têm ignorado totalmente as realizações estimulantes da nossa categoria – como a dos invisíveis undergrounds Zedd, Kern, Turner, Klemann, DeLanda, Eros and Mare, and DirectArt Ltd, uma nova geração de cineastas ousada, pronta para arrancar a capa sufocante da teoria do cinema, em um ataque direto aos sistema de valores conhecidos pelo homem.

VÍDEO: “Vortex” by BETH B AND SCOTT B (1982)




VÍDEO: TOMMY TURNER AND DAVID WOJNAROWICZ – “Where Evil Dwells” (1985)



Nós propomos que todas as escolas de cinema sejam ampliadas e todos os filmes chatos nunca sejam feitos novamente. Propomos que o senso de humor é um elemento essencial, descartado pelos acadêmicos trêmulos e, ainda, que qualquer filme que não choque, não vale a pena olhar. Todos os valores devem ser desafiados. Nada é sagrado. Tudo deve ser questionado e reavaliado, a fim de libertar as nossas mentes a partir da tradição de fé, da tradição. Demandas de crescimento intelectual em que os riscos sejam assumidos e que as mudanças ocorram em alinhamento político, sexual e estético, não importando quem o desaprove. Nós propomos ir além de todos os limites previstos ou prescritos, por gosto moral ou qualquer outro sistema de valores tradicionais, abalando a mente dos outros homens. Passamos a ir além das fronteiras do milímetro, das telas e dos projetores para um estado de cinema expandido.

VÍDEO: RICHARD KERN - Stray Dogs (1985)



VÍDEO: RICHARD KERN - The Right Side Of My Brain (1985)



Nós violamos o comando e a lei daqueles que levaram o público à morte em rituais de circunlóquios e propomos quebrar todos os tabus da nossa era, tanto quanto possível. Lá estará o sangue, a vergonha, a dor e o êxtase, colóquios que ninguém ainda imaginou. Ninguém deve sair ileso. Desde que não há vida após a morte, o único inferno é o inferno da oração, obedecendo às leis e rebaixando-se diante da figura da autoridade, o único paraíso é o paraíso do pecado, se rebelando, divertindo, fodendo, aprendendo coisas novas e quebrando todas as regras possíveis. Este ato de coragem é conhecido como transgressão. Nós propomos a transformação por meio da transgressão - de converter, transfigurar e transmutar para um plano superior de existência, a fim de abordar a liberdade em um mundo cheio de escravos do desconhecimento.
- NICK ZEDD

VIDEO: NICK ZEDD - Wild World Of Lydia Lunch (1983)