08 abril 2011

ANTI-ARTE: O ACIONISMO VIENENSE


O acionismo vienense se desenvolveu em Viena entre 1965 e 1970, sendo protagonizado pelos artistas austríacos Herman Nitsch, Otto Mühl, Rudolf Schwarzkogler e Günter Brus e pelos escritores Gerhard Rühm e Oswald Wiener.
Se comparado com outros movimentos como os happenings, performances e fluxus, o acionismo vienense caracterizou-se pela forma mais violenta e agressiva de tratar o corpo na arte. Seu impacto influencia os dias atuais e reflete a negação da estética, do artista e da própria arte.


VÍDEO: ‘SELBSTBEMALUNG / SELBSTVERSTÜMMELUNG’ (1965), DE GÜNTER BRUS




O movimento acionista consistia no desmantelamento de tabus corporais e mentais, como ‘anti-arte'. Eles acreditavam realizar ações puristas, sem caráter estético, avesso à contemplação ou reflexão, buscando a libertação. O próprio corpo era o suporte da obra e os materiais utilizados eram instrumentos de corte e perfuração, mas principalmente sangue e secreções do próprio corpo-suporte. Assim, renunciava qualquer tipo de mercantilização.


No acionismo vienense, as facas se convertem em pincéis, o corpo em tela e as próprias secreções do corpo humano em pigmento, desse modo, o corpo é a pintura, a escultura e a expressão plástica. Em ação, os artistas se cortam, se mutilam e permitem a possibilidade da dimensão de uma arte terapêutica.


VÍDEO: TEASER NITSCH & CARAVAGGIO




Além de seu caráter terapêutico e ritualístico, o acionismo vienense também se mostra como uma arte com caráter político. Para os acionistas o melhor meio para a expressão de suas contestações em relação ao poder repressor do Estado e ao comportamento cínico da sociedade foi o corpo, a única coisa que pertence realmente ao homem e sobre o qual se deposita a cultura de forma mais intensa, formando os comportamentos e ideologias. Nesse sentido, ao colocar o corpo em destaque com o sentido da dor e da destruição, os acionistas, pela via do repúdio e do asco e na relação de alteridade, buscavam mobilizar o indivíduo para que voltasse o olhar para si mesmo e questionasse a sua identidade e a sua postura ética.


VÍDEO:OTTO MÜHL "MAMA UND PAPA" (MATERIALAKTION, 1964)




Os acionistas formavam um grupo de idéias heterogêneas no qual cada artista atuava a sua maneira em intensa colaboração com os demais. Em relação ao modo de atuação, as ações de Nitsch estarão mais voltadas para o sacrifício e o ritual, num ataque direto aos valores religiosos, enquanto as ações de Mühl se voltam mais para a liberação sexual pela via da perversão e do escárnio.



Para Nitsch, pintura, pigmento e sangue se misturam formando um só corpo, um corpo real, não pictórico. Considerando cada ação como um «acontecimento real», Nitsch rompe com os limites entre arte e realidade, entre as substâncias orgânicas e os elementos artísticos através de uma atitude repugnante, obscena e perversa que pretende motivar os sentidos do espectador sem que esse participe ativamente da ação.


VIDEO: HERMANN NITSCH,"ABREAKTIONSSPIEL" (1970)




As ações de Nitsch inicialmente se restringiam à pequenos espaços privados tendo como espectadores um número reduzido de amigos, posteriormente, apresenta seu trabalho em espaços públicos como museus e galerias e, a partir de 1971, comprará e converterá o castelo de Prinzendorf no Teatro de Orgias e Mistérios, no qual apresentou sua ação nº 80 de setenta e duas horas e, em 1998, a festa do seis dias, que pode ser considerada o ponto culminante de seu teatro.

VIDEO: DES ORGIEN MYSTERIEN THEATERS - HERMANN NITSCH, 1998




VIDEO: BLOODLINES - THE PAINTINGS OF HERMANN NITSCH



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