05 junho 2011

OSCAR NIEMEYER: CASA DAS CANOAS


A Casa das Canoas (projetada em 1951 e construída em 1953) é uma das habitações individuais mais fascinantes já realizadas nesse século. O resultado final fica longe das duas casas modernistas referenciais daquela época: a Farnswourth House, de Mies van der Rohe (1946-1950), e a Glass House, de Philip Johnson (1949). Oscar Niemeyer, o arquiteto que projetou a casa, optou por uma forma orgânica e uma mágica integração entre arquitetura e ambiente natural de rocha, vegetação e água - uma indiscutível obra-prima.



A força da Casa das Canoas está, em primeiro lugar, na relação com a situação privilegiada. A vista ao mar, a presença do horizonte e o gabarito quase horizontal da Pedra de Gávea, definiram a forma da cobertura. O passeio arquitetural que o visitante tem no percurso até a casa também tem uma relação forte com o local. De carro, chega-se pelas curvas da estrada das Canoas até um ponto, em seguida uma trilha leva até a casa; o carro foi eliminado do lugar. Na caminhada, a cobertura da casa se revela como uma lâmina colocada sobre colunas finas - é uma linha continua e flutuante. Niemeyer constrói esta habitação pela ideia do “teto de forma livre” experimentado na Casa do Baile (1942), na Pampulha, com mais atenção.



A piscina ao lado da Casa das Canoas ganha mais que um significado funcional, por causa da rocha que se estende até o interior da casa. O volume da rocha une solidamente a casa ao chão, mas Niemeyer também consegue ligar o exterior e o interior da casa através da rocha. Ao redor da piscina foram colocadas esculturas do seu amigo Alfredo Ceschiatti. As ondulações elegantes dos corpos femininos se incorporam perfeitamente na arquitetura ondulante. A justaposição da lâmina de concreto, a rocha e as estátuas cria uma relação sutil entre natureza e cultura.



A casa não tem frente nem fundo: o movimento contínuo criou uma fachada de vidro com um ritmo fluente. Ao contrário de Mies van der Rohe e Philip Johnson, Niemeyer buscou para a casa um caráter ao mesmo tempo transparente e fechado. Isto se manifesta na parede fechada e ondulada de madeira, que dá intimidade e privacidade na sala de estar. Nessa parede encontra-se no lado sul uma pequena janela, colocada numa altura bem baixa, que dá vista ao mar para quem está sentado. Ao lado da janela foi colocado um desenho de Le Corbusier, com um dedicatória para Niemeyer.


O piso com os dormitórios, que foi colocado no subsolo, possui uma configuração completamente diferente em relação ao andar superior. Os dois andares são ligados por uma escada larga. Em baixo da escada localiza-se a biblioteca e uma lareira com uma abertura circular. O modo como Niemeyer formaliza a chaminé, quase invisível na vista externa, é um detalhe interessante em si e prova que ele considerou o volume da chaminé um elemento perturbador na sua composição pura.



Nas áreas coletivas, Niemeyer introduziu algumas soluções que fortalecem a fluidez dos espaços. Colocou uma parede curva no espaço das refeições, exigindo a presença de uma mesa redonda e o limite entre dentro e fora é superado pelo o piso do interior que continua nos dois terraços exteriores. Também, não tentou criar uma unidade no mobiliário, o arquiteto sempre resistiu aos interiores com objetos contemporâneos apenas. O lugar do homem precisa ser marcado por uma confiança no passado e no futuro.



A poesia e a sensualidade que Niemeyer uniu na Casa das Canoas foi a resposta mais forte dada até hoje à Glass House de Johnson. Os críticos sempre apontaram que a linha curva na obra de Niemeyer não é o resultado da referência à paisagem, mas da sua fascinação pelo corpo feminino. Assim o erotismo é considerado uma parte essencial de sua arquitetura. Fogo e água ganham um significado mais profundo que apenas o funcional. Trata se de captar a essência da vida e da morte em arquitetura.



Essa casa é a construção mais sensual, talvez a casa mais erótica que um arquiteto famoso jamais imaginou. Aqui Niemeyer mostra o que arquitetura orgânica quer dizer para ele: uma configuração muito elegante, na qual o interior e o exterior se unem em harmonia.
No ano em que Oscar Niemeyer completou 100 anos, 2007, o IPHAN decidiu pelo tombamento de 35 obras de sua autoria e entre elas a Casa das Canoas.








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