08 setembro 2011

GREGORI WARCHAVCHIK: PRIMEIRA CASA MODERNISTA DO BRASIL


Ucraniano, naturalizado brasileiro, Gregori I. Warchavchik (Odessa, 1896 - São Paulo, 1972) foi um dos principais nomes da primeira geração de arquitetos modernistas do Brasil, projetando e construindo para si aquela que foi considerada a primeira residência moderna do país.

Gregori chegou ao Brasil em 1923, no auge da vanguarda modernista, apenas um ano após a Semana de 1922, encontrando aqui uma predisposição à aceitação das ideias que ele trazia da Europa - os preceitos de Walter Gropius, Mies van der Rohe e Le Corbusier. Oportunamente, naquele momento São Paulo fervilhava de intelectuais defensores da nova arte. Warchavchik logo entrou em contato com o grupo modernista de São Paulo, onde conheceu a jovem paisagista Mina Klabin, filha de um grande industrial da elite paulista, com quem se casou.


Em 1925, o arquiteto escreveu aquele que seria o primeiro manifesto da arquitetura modernista no Brasil, publicado inicialmente em italiano no jornal Il Piccolo - intitulado "Futurismo?" e, posteriormente, traduzido e republicado pelo Correio da Manhã, sob o título de "Acerca da Architectura Moderna". No artigo, o arquiteto criticou os ornamentos, ressaltou o moderno e fez elogios à "máquina de morar".

A PRIMEIRA CASA MODERNISTA DO BRASIL


Em 1927, em função de seu casamento, Warchavchik começa a construir para si, na rua Santa Cruz, bairro de Vila Mariana, em São Paulo, aquela que seria considerada a primeira casa modernista do país, concluída em 1928.


O projeto, a construção, a decoração, os interiores, os móveis e as peças de iluminação, são de autoria do arquiteto. Mina Klabin Warchavchik, além de contribuir financeiramente com a construção, inclusive dispondo de terreno de sua familia, colaborou com o projeto paisagístico para o jardim.


O projeto para a casa teve como objetivo a racionalidade, o conforto, a utilidade, uma boa ventilação e iluminação. Inspirado nas paisagens brasileiras, criou uma arquitetura que se adaptou à região, ao clima e às tradições do país.

VIDEO: A CASA MODERNISTA DA RUA SANTA CRUZ



Os participantes da Semana de Arte Moderna de 1922 opinaram sobre o sucesso de Warchavchik, ao conseguir uma essência nacional na casa sem comprometer o objetivo de romper com os elementos tradicionais da Arquitetura.


A casa, hoje pertencente ao Estado de São Paulo, foi tombada em 1980 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado e reconhecida como Patrimônio Histórico pelo IPHAN, tornando-se um parque.

A CASA DA RUA ITÁPOLIS


Em 1929 Warchavchik projetou a "Casa Modernista da Rua Itápolis", onde aplicou suas idéias de forma mais livre, pois já dominava técnicas mais arrojadas.
Em 1930, a casa de linhas retas, fachada branca e concreto armado, foi aberta com uma exposição de móveis, objetos e obras de modernistas como Tarsila do Amaral e Victor Brecheret.


A casa ficou em exposição de 26 de março a 20 de abril de 1930 e impulsionou a renovação arquitetônica brasileira, tornando-se uma referência e complementando a revolução assinalada pela "Semana de Arte Moderna de 1922". Nessa casa aconteceram várias exposições de arte moderna, havendo uma grande efervecência cultural dos intelectuais de vanguarda.


No projeto, Warchavchik procurou resolver, de maneira mais estética possível, a questão econômica e funcional.

VIDEO: 3 D DA CASA MODERNISTA DA RUA ITÁPOLIS



Ao contrário do tradicional, eliminou corredores com a finalidade de obter mais espaço. Uma planta-baixa pequena, simples e econômica mudou a concepção de muitos a respeito da arquitetura moderna e passou a ser referência para o Estado.


Warchavchik recebeu muitos elogios. Le Corbusier, que visitou a casa ainda em construção, em 1929, decidiu, em uma reunião junto com outros intelectuais paulistas, na própria residência, que Warchavchik representaria não só o Brasil como toda a América do Sul, como delegado do Congrès Internationaux d'Architecture Moderne (CIAM).


Um ano mais tarde, em função da Revolução de 1930, Lúcio Costa é convidado a assumir a direção da Escola Nacional de Belas Artes. Uma de suas providências foi convidar Warchavchik para lecionar no curso de Arquitetura. O convite foi aceito e enquanto dava aulas também produziu alguns projetos. Juntamente com Lúcio Costa, montou um escritório, onde Niemeyer trabalhou como desenhista.

VIDEO: PRIMEIRA CASA MODERNISTA DO BRASIL COMPLETA 80 ANOS



Na comemoração dos 80 anos da mostra original, em 2010, a casa foi restaurada pela família Warchavchik e reaberta para visitação.

VIDEO: NOITE DE REABERTURA DA CASA MODERNISTA DA RUA ITÁPOLIS



2 comentários:

may Hampshire disse...

Ótimo texto, bem documentado!
May Hampshire

Mariana Damasceno disse...

Alberto, seu post está simplesmente incrível!! Sou estudante de Arquitetura e ele me ajudou bastante em um trabalho a respeito de Casas Modernistas.
Parabéns pelo ótimo trabalho.