22 maio 2012

ARQUITETURA: SOLOMON R. GUGGENHEIM MUSEUMS


Duas cidades de ambos os lados do Oceano Atlântico, e uma fundação determinada a globalizar e impactar a sociedade. Dois arquitetos, cada um criando uma obra-prima para abrigar sua coleção, e milhões de cidadãos expostos a duas das mais inovadoras e importantes obras de arte da arquitetura. Os Museu Solomon R. Guggenheim, em Nova York e Guggenheim Bilbao, na Espanha, transcendem sua finalidade comum de abrigar uma coleção de arte, e se tornam ícones culturais - obras de arte em si.


O design inovador e de ambos os edifícios continuam a inspirar uma vasta gama de emoções, desde os freqüentadores do museu, até os críticos de arte. Ainda hoje, meio século após a abertura do Museu Guggenheim em Nova York, e mais de uma década após a abertura do seu homólogo em Bilbao, estas estruturas são consideradas ousadas declarações arquitetônicas.

FRANK LLOYD WRIGHT E O MUSEU SOLOMON R. GUGGENHEIM, EM NY


Desde a sua criação em 1937, no Upper East Side, a Fundação Solomon R. Guggenheim tem sido uma instituição de destaque para a recolha, preservação e pesquisa da arte moderna e contemporânea. Em sua primeira iniciativa fundou o ‘Museu de Pintura Não-objetiva’, para exibir arte vanguardista de artistas modernos da como Kandinski e Mondrian. Em 1959, já denominado Solomon R. Guggenheim Museum, foi transferido para lugar onde se encontra atualmente (na 5 ª Avenida com a Rua 88, diante do Central Park), quando ficou pronto o edifício desenhado pelo arquiteto Frank Lloyd Wright.

DOCUMENTÁRIO: O MUSEU GUGGENHEIM



Naquela época, a intenção de Guggenheim (1861-1949), filho de imigrantes suíços de origem judaica que se estabeleceram nos EUA por volta de 1850, era preservar seu vasto acervo particular, mas não sabia quem eleger como arquiteto para o museu, então pediu ajuda à baronesa Hilla von Rebay. Eles procuravam um arquiteto que pudesse dar-lhes uma nova forma de abrigar e mostrar arte, que criasse um espaço digno e reflexivo para as peças da coleção.


Frank Lloyd Wright, Salomon R. Guggenheim e Hilla von Rebay em 1945

Rebay escolheu Wright porque era o arquiteto mais famoso do momento, reconhecido pela sua visão de futuro, e pela capacidade de satisfazer o custo da obra mantendo a criatividade nos projetos. No verão de 1943, o arquiteto recebeu uma carta da baronesa, que era artista e curadora, pedindo ajuda na concepção de um museu para abrigar a coleção de pinturas ‘non-objective’ do empresário e colecionador Solomon R. Guggenheim.


O Museu Solomon R. Guggenheim é um marco histórico nacional e um ícone cultural - uma obra de arte por direito próprio, que proporciona a experiência das grandes obras de arte. Em outros museus, é tudo sobre a arte, mas nele a história é o edifício também.
O audacioso projeto foi último trabalho importante e a primeira construção de Wright na cidade de Nova York. Demorou mais de quinze anos e 700 esboços para a concepção do edifício. Infelizmente nem Solomon Guggenheim, nem Wright viveram para vê-lo aberto - dez anos após a morte do fundador e seis meses depois da morte do arquiteto, o Museu Guggenheim abriu suas portas e recebeu os visitantes pela primeira vez. As formas pouco convencionais da obra provocaram muitas críticas.


A ideia central por trás do projeto é a de um espaço da galeria em espiral. Isto foi conseguido em pouco mais de seis lances de rampas e paredes inclinadas. A espiral cria uma verticalização forte que flui suavemente para cima até chegar ao topo, que Wright deixou aberto para abrigar uma claraboia acima do átrio, oferecendo a principal fonte de luz em toda a galeria.


A fim de reforçar o efeito da iluminação Wright projetou a espiral de tal forma que mesmo os andares inferiores captam a iluminação da claraboia, enquanto a iluminação focal é embutida em tetos e paredes. Wright esperava que isso criasse um espaço mais intimista e pessoal para o espectador. A ideia de movimento e fluidez foi primordial na concepção do arquiteto. "Uma cadeira de rodas pode ir para cima e para baixo. Não para em nenhum lugar...”.

DOCUMENTÁRIO: PEGGY GUGGENHEIM (em italiano)



Enquanto Solomon adquiria suas peças nos EUA, sua sobrinha Peggy fazia o mesmo na Europa, buscando muitas das obras que hoje estão expostas no museu. Em 1980, Peggy deu o primeiro impulso para a manutenção do acervo da família fundando o museu ‘Peggy Guggenheim Collection’, em Veneza, cuja coleção foi avaliada em mais de US$ 40 milhões.


De 1983 a 1992 o Museu Guggenheim de NY fez uma ampliação com uma torre retangular mais alta que a espiral original, que gerou uma forte controvérsia.
Um anexo de nove andares e quase 20 mil metros quadrados foi erguido por Charles Gwathney e Robert Siegel atrás do edifício original. A ampliação custou aos cofres da fundação do museu cerca de U$ 60 milhões e dois anos de portas fechadas ao público.

VIDEO: CONHEÇA OS MUSEUS DO SoHo



A revitalização do Guggenheim deu-se em várias direções. Ainda no mesmo ano, foi construída uma sucursal da instituição no SOHO, um dos bairros mais badalados de Manhattan. Após uma reforma confiada à prancheta do japonês Arata Isozaki, os seis andares de um prédio antigo de tijolo aparente, típico da região, se transformaram no amplo cenário das mais contemporâneas mostras e expressões artísticas.

FRANK GEHRY E O MUSEU GUGGENHEIM BILBAO, NA ESPANHA

Outro braço da fundação cultural foi inaugurado em Bilbao, no país basco. Em vidro, pedra e titânio, foi construído um prédio com 22 mil metros quadrados, dos quais 10 mil metros destinados às exposições, um quinto da área útil do museu do Louvre, o maior do mundo. Escolhido por concurso, o projeto do norte-americano Frank Gehry concilia ousadia com funcionalidade.


Com base em muitas das mesmas idéias defendidas por Wright para o museu de Nova York (movimento e fluidez), o Museu Guggenheim Bilbao, desenhado pelo arquiteto canadense naturalizado norte-americano Frank O. Gehry, se contorce descontroladamente ao longo da margem industrial do Rio Nervión, no antigo porto da cidade de Bilbao, região basca da Espanha.
O museu foi encomendado pela cidade como parte de um esforço para revitalizar Bilbao, atrair mais pessoas e o comércio. As autoridades da cidade foram até o diretor da Fundação Guggenheim, Thomas Krens, e propuseram colocar um novo museu no centro de Bibao.


A primeira idéia da Fundação Guggenheim para a implantação do museu consistia na adaptação de um antigo armazém de vinho, conhecido como o Alhondiga - com 28 000 m2, construído no princípio do século -, mas logo ficou evidente que as restrições físicas da arquitetura dos prédios originais nunca iriam permitir uma transição suave para um museu moderno. Fez-se necessário, então, a compra de um terreno industrial junto ao rio e a ponte de La Seve.


O Comitê Executivo da Fundação Guggenheim conferiu à Krens, a tarefa de escolher três arquitetos que concorreriam pela honra de desenhar o novo museu. Em 1992 foi aberto concurso de arquitetura com três equipes: uma européia, a vienense Coop Himmelblau, uma americana, coordenada por Frank Gehry e uma asiática, liderada pelo japonês Arata Isozaki.

DOCUMENTÁRIO: A ARQUITETURA DE FRANK O GARY - O BILBAO GUGGENHEIM MUSEUM



A intenção fundamental da Fundação era que o edifício transmitisse uma forte identidade icônica para atrair, pelas suas qualidades arquitetônicas, um público específico, tal como se verificava com o museu nova-iorquino, desenhado por Frank Lloyd Wright. A partir deste pressuposto, o júri escolheu a proposta de Frank Gehry, caracterizada pela forma escultórica, por materiais de revestimento brilhantes e pela integração orgânica com a paisagem.

DOCUMENTÁRIO: OS ESBOÇOS DE FRANK GEHRY



O Para ser aceito pela comissão de design Gehry teve de incorporar elementos já existentes na cidade, de tal forma que o novo Guggenheim pudesse refletir e ampliar o esplendor do espaço industrial da cidade. Nesta obra de Gehry, o Guggenheim culmina uma série de pesquisas formais no sentido de criar uma linguagem escultórica, fragmentária e curvilínea. Estas formas distorcidas recordam as formas de concha do teatro da Ópera de Sydney, de Jorn Utzon, e o projeto do próprio Gehry para o Museu Frederich R. Weisman em Mineápolis.




Gehry se inspirou em muitos de seus desenhos antigos e na melhoria de todas as inovações que ele havia feito ao longo dos anos, incluindo as linhas curvas, ao invés de simples ângulos de 90 graus, e o conceito de um grupo de formas, em que um único prédio foi desconstruído em muitos pedaços pequenos e, em seguida, ligado com um elemento unificador.


No caso do Guggenheim Bilbao, este elemento consistiu em um átrio de vidro com 50 metros de altura, de onde elevadores de vidro e passagens de metal levam a 19 salas de exibição - incluindo a maior galeria do mundo, com 130 metros de comprimento e 30 metros de largura -, e o revestimento de titânio que cobre todo o museu.


As placas de titânio, com apenas 1 / 3 de milímetro de espessura, acrescentam a sensação de que o prédio está em constante movimento, uma vez que tem jogo suficiente para se mover com o vento. Ao mesmo tempo, o museu parece acompanhar as mudanças da natureza com os reflexos da luz sobre o titânio, que o transformam em tons de cinza nos dias fechados, em dourados no por do sol ou em azuis que refletem o dia claro e o rio. Para um escritor espanhol, o brilho e a luz do titânio fazem dele um "meteorito".
Os admiradores comparam o museu a um barco com as velas enfunadas e a uma nave espacial de Alfa Centauro - destacando a aparência futurística do museu.


Os trabalhos de arte exibidos no museu de Bilbao vêm do Museu Solomon R. Guggenheim de Nova York e do governo basco. As peças variam do abstrato expressionista ao cubista e geométrico, e incluem muitos nomes famosos da arte do século 20: Kandinsky, Picasso, Pollock, De Kooning.

DEPOIMENTOS: CONSTRUINDO UM SONHO

PARTE 1


PARTE 2


PARTE 3


PARTE 4


As galerias do andar térreo abrigam trabalhos artesanais e instalações de larga escala, e algumas peças foram feitas especialmente para caber em suas salas de exibição, entre elas a Serpente, de Richard Serra, que quando enquadradas são ‘site specifics’ que interagem com o museu até no seu processo de elaboração. Para viabilizar a construção em Bilbao, na década de 90, Gehry criou um escritório de cálculos estruturais que, a partir de um programa para projetos aeronáuticos, desenvolveu um software específico para arquitetura. Serra, por sua vez, teve suporte deste mesmo escritório de engenharia. Posteriormente, a obra foi executada em aço numa fundição que mantém convênio com o artista. Mesmo assim, o museu em si continua sendo a atração principal.

DOCUMENTÁRIO: RICHARD SERRA NO GUGGENHEIM BILBAO



O mundialmente famoso arquiteto Philip Johnson chamou o Museu Guggenheim em Bilbao de "o prédio mais incrível da atualidade". Ele é "um milagre", disse o "The New York Times". Com certeza poucos prédios na história foram tão elogiados ou mudaram tanto uma cidade como o museu de Frank Gehry na margem industrial do rio de Bilbao.
Os trabalhos de construção foram iniciados em 22 de Outubro de 1993, e o museu foi inaugurado em 19 de Outubro de 1997. O edifício implanta-se num terreno de 32 700 m2 e tem 28 000 m2 de área construída. Para além dos espaços expositivos contém um auditório, biblioteca, oficinas, livraria e loja, restaurante e cafeteria.
O museu, por sua estrutura e arquitetura exuberantes, transformou-se desde sua inauguração em um grande atrativo turístico europeu.

DOCUMENTÁRIO: CONEXÕES DA ENGENHARIA - GUGGENHEIM BILBAO

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