15 abril 2011
ARTE & BIOTECNOLOGIA: ORLAN
As artes plásticas contemporâneas comportam, muitas vezes, uma mise-en-scène do artista e de sua própria imagem. Entre os inúmeros artistas que participam desse movimento, está a francesa Orlan, tanto original quanto desconcertante, ela usa freqüentemente seu próprio corpo como um suporte, ou como uma superfície de transformação e de criação.
É certo que muitos outros artistas lançaram mão do travestismo de si mesmos em suas criações artísticas, mas Orlan radicaliza essa metamorfose, levando-a até sua carne e submete, de algum modo, sua pele ao mesmo tratamento que se dá às roupas. Tudo acontece como se seu processo criador consistisse na transformação de seu próprio corpo num "corpo estranho".
VIDEO: NARCISSISM IS IMPORTANT - ORLAN
Nessa perspectiva, o percurso artístico de Orlan, inteiramente composto de auto-retratos, aparece tanto como um lugar de auto-reconhecimento (retrato de si), quanto como uma verdadeira "obra de alteridade" (retrato de um outro), pois por esse reconhecimento passa a maior estranheza, às vezes até mesmo o medo e o terror. O medo que se pode experimentar diante da abertura do corpo de Orlan nos remete à confrontação com a imagem do cadáver, que se impõe tanto como aquilo que está "mais distante de mim" como quanto ao que está "mais perto de mim".
O paradigma da melancolia vai então permitir a aproximação das múltiplas identificações ao morto e ao vivo, ao estranho e ao familiar, mas também o questionamento da própria psicanálise, seus legados e suas aberturas. O trabalho de Orlan apresenta-se, portanto, como uma estranha ressonância com a cura analítica quando ela se abre, da mesma forma, a um auto-reconhecimento pela confrontação com o que se tem de mais estranho.
Andréa Linhares. Psicanalista, professora na Universidade Paris VII – Denis Diderot.
VIDEO: DOCUMENTÁRIO COMPLETO - "ORLAN" - CARNAL ART (2001)
SK-INTERFACES, “The Harlequin's Coat”
Em 2008 uma exposição que reuniu esculturas feitas com pele humana despertou interesse e polêmica em uma galeria na cidade de Liverpool, na Inglaterra.
Ao todo, 15 artistas internacionais participaram da exposição, no Centro cultural FACT. A mostra Sk-interfaces incluiu um casaco feito com tecido cultivado em laboratório que mescla células humanas e de várias outras espécies. A obra, intitulada The Harlequin's Coat, é da artista ORLAN, conhecida por ter alterado cirurgicamente seu próprio rosto buscando faces associadas a culturas não-ocidentais.
A exposição abordou algumas das questões mais polêmicas da atualidade, fundindo ciência, tecnologia e arte. "O que antes era entendido como uma superfície que representa o limite do eu, entre o dentro e o fora, hoje pode ser visto como uma fronteira instável", diz Jens Hauser, curador da exposição.
VIDEO: THE HARLEQUIN’S COAT
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