05 fevereiro 2013

RESTOS MORTAIS DE RICARDO III SÃO ENCONTRADOS DEPOIS DE CINCO SÉCULOS


Cientistas da Universidade de Leicester, na Inglaterra, anunciaram ontem (04/02) que o esqueleto escavado sob o estacionamento de um conjunto de prédios públicos a 160 quilômetros de Londres são, de fato, os restos mortais de Ricardo III, último representante da Casa de York.


Depois de uma apresentação acadêmica detalhada com foco nas feridas e porte físico de Ricardo III, o arqueólogo responsável pelo projeto, Richard Buckley, anunciou sua conclusão sob gritos e aplausos. Os arqueólogos e historiadores procuravam pela tumba perdida há quatro anos.

VIDEO: OSSADA É CONFIRMADA COMO DO REI RICARDO III



Apesar das lendas de que Ricardo III era cruel e odiado, e que por isso seu corpo teria sido jogado no Rio Soar, na realidade ele foi enterrado sob o coro do mosteiro de Greyfriars, depois de morrer lutando contra seu sucessor, Henrique Tudor, na Batalha de Bosworth Field, em 1485, a última na qual um rei inglês lutou pessoalmente.
Depois que Henrique VIII rompeu com o catolicismo, o templo transformou-se em ruínas, sobre as quais foi construido o estacionamento da sede do Conselho Municipal de Leicester.


Na década de 1950, quando o local passava por uma reforma, um arqueólogo levantou a suspeita de que o monastério jazia sob o terreno, onde foram encontrados vestígios de um templo da época, como pedaços de mosaicos e colunas. O historiador inglês John Rous, contemporâneo de Ricardo III, já havia informado que o rei estava enterrado no mosteiro de Greyfriars de Leicester, e pela descrição de sua localização o arqueólogo imaginou ter descoberto a tumba do monarca. Contudo, somente meio século depois é que a suspeita se confirmou.


Philippa Langley

Em 2009, a escocesa Philippa Langley - roteirista e ricardiana (membro da Sociedade Ricardo III) - que trabalhava em um roteiro sobre a verdadeira face do monarca, conseguiu uma autorização do Conselho Municipal de Leicester, e convenceu o Departamento de Arqueologia da universidade a embarcar com ela nas buscas pelo túmulo real no estacionamento. Em agosto do ano passado, as escavações começaram, e no início do mês seguinte os cientistas anunciaram a descoberta de dois esqueletos, sendo um deles do sexo masculino.

FORTE EVIDÊNCIA: RICHARD III FOI ENTERRADO EM LEICESTER



Diversos testes, incluindo análise de DNA, foram realizados e combinados com registros históricos. Todas as evidências sinalizavam que aquele era o esqueleto de Ricardo III, mas os pesquisadores de Leicester esperaram a conclusão de todos os exames para dar a notícia.
“Sob o ponto de vista acadêmico, temos o prazer de anunciar que há poucas dúvidas de que o indivíduo exumado no (mosteiro) Greyfriers em 12 de setembro é, de fato, de Ricardo III, o último rei Plantageneta (dinastia à qual pertencia) da Inglaterra”, disse na coletiva de imprensa de ontem Richard Buckley, arqueólogo que liderou os trabalhos.

VIDEO: KING IN THE CAR PARK RICHARD III SKELETON AUTHENTIC



Graças à tecnologia, os pesquisadores descobriram desde a causa da morte até o tipo de alimento consumido pelo indivíduo exumado. O esqueleto mostrou sinais de lesões correspondentes a feridas recebidas na batalha. Além de fendas no crânio, foram encontradas mais dez ocorrências no esqueleto. A análise de radiocarbono relevou que ele tinha uma dieta com bastante proteína, incluindo grandes quantidades de frutos do mar, o que aponta para um alto status social da época.
O mesmo teste mostrou que o esqueleto era de um indivíduo que morreu entre a segunda metade do século XV e início do século XVI, o que confere com a morte de Ricardo, em 1485.


Jo Appleby

Jo Appleby, da Faculdade de Arqueologia e História Antiga da Universidade de Leicester, que conduziu o exame no esqueleto de Ricardo III, contou que muitas das lesões nos ossos foram provocadas quando o rei já estava morto, deitado no campo de batalha. “Apesar de o rosto ter sido mantido intacto, provavelmente para que todos vissem que Ricardo III estava morto, os inimigos machucaram bastante o crânio. Essa prática de humilhar e profanar o corpo é descrita na história”, disse.


Todas as provas conferem com os registros históricos, incluindo o problema de coluna de Ricardo III, que não era corcunda, como diziam seus inimigos. O esqueleto revelou uma severa escoliose, que pode ter ocorrido no início da puberdade. Embora tivesse 1,70m de altura, a curvatura na coluna levaria o rei a ficar significativamente menor e com o ombro direito mais alto do que o esquerdo.


A idade do rei, 32 anos, também está dentro da faixa estimada pela datação de radiocarbono, assim como a estrutura física do monarca, descrito na época como frágil e gracioso.
Especialistas disseram que o DNA retirado do corpo combinava com o de Michael Ibsen, um carpinteiro de origem canadense, morador de Londres, que genealogistas disseram ser o descendente direto da irmã de Ricardo, Anne de York.

VIDEO: DNA CONFIRMA ESQUELETO COMO REI RICARDO III



Segundo Sarah Knight, professora da Faculdade de Inglês da Universidade de Leicester, a imagem negativa de Ricardo III foi construída pelos historiadores da era Tudor, que lutaram contra os York por três décadas, e assumiram o poder com a morte do monarca, na batalha Bosworth Field. Eles acusavam Ricardo de ter conspirado contra própria família para assumir o trono, caluniando o irmão e mandando matar os dois sobrinhos para ser coroado. De fato, os pequenos príncipes, que moravam em um apartamento da Torre de Londres, desapareceram e nunca mais foram vistos.

RICHARD III THE KING IN THE CAR PARK



No século 17, durante uma reforma, os esqueletos de duas crianças foram descobertos embaixo da escadaria da capela. Contudo, não há qualquer prova de que sejam dos príncipes nem de que Ricardo III esteja envolvido na morte dos sobrinhos. Esse episódio, contudo, foi bastante explorado pelos Tudor para que o rei da casa de York fosse sempre lembrado como um tirano cruel e impiedoso. Com a identificação da tumba de Ricardo III, os pesquisadores esperam poder reescrever esse capítulo da história.

Mais de 500 anos depois de sua morte, Ricardo III receberá funerais dignos de um rei. O prefeito de Leicester, sir Peter Soulsby, afirmou que os restos mortais serão enterrados com pompas monárquicas da catedral da cidade, em 2014, onde já existe um memorial dedicado a ele.

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