24 abril 2009

2ª CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE RACISMO


Mais de 100 países na conferência global da Organização das Nações Unidas (ONU) contra o racismo concordaram com uma declaração que pede que o mundo combata a intolerância. A decisão, tomada sob consenso, aconteceu depois de o encontro ter sido agitado com a acusação, em discurso, pelo presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, de que Israel é um país "racista".
Esse discurso provocou uma retirada dos países da União Européia do encontro. A República Tcheca se juntou aos EUA e a diversas outras nações no boicote à conferência. O presidente da conferência, Amos Wako, saudou o que considerou uma “decisão capital”.



A aprovação precoce do texto, negociado ao longo de vários meses em reuniões preparatórias em Genebra, ocorreu devido ao temor de que países abandonassem a conferência por causa das declarações do presidente iraniano. "A aprovação da declaração final é nossa resposta ao discurso anti-semita de Ahmadinejad", declarou a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navy Pillay.


O ministro de Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, alertou que a decisão dos EUA de boicotar o encontro pode ser um erro e prejudicar os esforços de aproximação do Irã. Os EUA temiam que a conferência da ONU pudesse se transformar num palco para comentários anti-semitas do presidente iraniano e de autoridades árabes.
Questionado sobre a decisão dos EUA, tomada no momento em que o governo Obama se diz aberto a negociações sobre o programa nuclear do Irã, Kouchner disse que é "mais do que paradoxo. Pode realmente ser um erro".

O governo brasileiro manteve o apoio à conferência, mas considera que as declarações de Ahmadinejad contra Israel "prejudicam o clima de diálogo e entendimento necessário” para a discussão internacional sobre o racismo. Segundo o Itamaraty, o Brasil aproveitará a visita de Ahmadinejad ao país, prevista para 6 de maio, para "reiterar ao governo iraniano suas opiniões sobre esses temas”.

DECEPÇÃO INTERNACIONAL

A ausência do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na conferência sobre racismo causou, para alguns, a primeira decepção internacional de seu mandato. Entidades do movimento negro em Chicago, no Congresso norte-americano e na África criticaram duramente a decisão de Obama, que optou por não enviar uma delegação a Genebra diante da linguagem anti-Israel no acordo que servirá de base para a conferência.
O Departamento de Estado norte-americano explicou que o boicote se baseou em dois fatores. Além da referência a 2001, de classificar o sionismo como uma forma de racismo e, portanto, a Israel, Washington alega que o texto faz referência à proteção de religiões que acabariam sendo limitações à liberdade de expressão. A decisão foi tomada depois de uma avalanche de visitas dos grupos de lobby pró-Israel à Casa Branca. O Comitê Israel-Americano de Relações Públicas saudou a decisão.

REAÇÕES NO MUNDO

O movimento negro não gostou do comportamento de Obama. É lamentável, disse a deputada Barbara Lee, líder da bancada negra no Congresso norte-americano. Juliette de Rivero, representante da entidade Human Rights Watch, também atacou a decisão da Casa Branca. Estamos decepcionados com o compromisso de Obama de defender os direitos humanos no cenário internacional, disse. Malaak Shabazz, a filha do ativista Malcolm X, também deixou clara sua decepção: É uma tristeza que o primeiro presidente negro norte-americano não envie uma delegação à conferência sobre racismo. Quase chorei ao saber da notícia.
Para o movimento negro mundial, o boicote de Obama é uma grande decepção e terá repercussão em sua imagem, mesmo ele sendo o primeiro presidente negro da história norte-americana, afirmou o senegalês Doudou Diene, ex-relator da ONU para o combate ao racismo. Organizações da sociedade civil e redes da América Latina também criticaram o boicote e a redução dos debates às questões árabes e israelenses. Condenamos estas atitudes, que para nós também são expressões modernas de racismo, uma vez que excluem do debate temas como reparação para a população afrodescendente, combate à discriminação contra as mulheres e respeito à orientação sexual, afirmou a coordenadora da Rede de Mulheres Afro-latino-americanas, Caribenha e da Diáspora, Dorothea Wilson.

REAÇÃO JUDAICA

Em Auschwitz, na Polônia, quando foram feitas homenagens às vítimas do Holocausto, o vice-primeiro-ministro de Israel, Silvan Shalom, comparou o atual regime iraniano com a Alemanha do ditador nazista Adolf Hitler (1889-1945). "O que o Irã trata de fazer atualmente é o que Hitler fez com o povo judeu há 65 anos", disse Shalom. "Após 64 anos, ainda temos de lidar com o preconceito, com o ódio, com os que tentam fazer de tudo para destruir o Estado judeu, o Estado de Israel", declarou Shalom aos participantes da Marcha dos Vivos, um evento anual para lembrar os 6 milhões de judeus que foram mortos durante o Holocausto, na 2ª Guerra Mundial. As autoridades israelenses prometeram que não haverá um segundo massacre.

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