11 abril 2012

CINEMA EXPERIMENTAL: JONAS MEKAS


Jonas Mekas nasceu em uma aldeia na Lituânia, em 1922. Ainda jovem escreveu e publicou poesia em lituano, atividade que adquiriu um tom político e ativista durante a Segunda Guerra Mundial, forçando-o a imigrar em 1944. No caminho para Viena o comboio foi interceptado pelos nazistas e Mekas, junto com o seu irmão (Adolfas), foram enviados para um campo de trabalhos forçados, mas fugiram no ano seguinte. De 1946 até 1948, Jonas estudou filosofia na Universidade de Mainz, na Alemanha.


Em 1949, os irmãos se exilaram em Nova York (USA), no bairro Brooklyn, numa pequena comunidade lituana. Logo depois Jonas comprou uma câmara e começou a frequentar as sessões da ‘Cinema 16″’ de Amos Vogel (autor do livro “Film as a Subversive Art”) e Marcia Vogel, que de 1947 a 1963 foi a principal sociedade não lucrativa a exibir e distribuir cinema experimental norte-americano.

Frequentador ávido de todo o tipo de mostras cinematográficas, ele estabeleceu contato regular com as novas expressões e as pessoas envolvidas. Como a seleção da ‘Cinema 16″’ excluía muitas obras, Mekas começou a programar sessões em outros espaços como a Gallery East e o Carl Fisher Auditorium, em 1953. A exibição de filmes com conteúdos ofensivos para a época fez com que fosse preso por ter mostrado “Flaming Creatures” de Jack Smith e “Un Chant D’Amour” de Jean Genet.

FLAMING CREATURES (1963) - JACK SMITH



Jonas Mekas estava na cidade certa (Nova York) no início da sua era de ouro e aberto ao que era urgente fazer em relação ao cinema do seu tempo. A ele deve-se a criação de canais de comunicação para exibir, divulgar, distribuir e preservar os filmes da vanguarda norte-americana. Mesmo nos anos de grande agitação política, Mekas manteve-se concentrado na sua causa - a de apoiar os filmes vanguardistas.

Em 1954, lançou a revista “Film Culture”, sobre os novos filmes avant-garde, onde contou com a colaboração regular de Peter Bogdanovich, Stan Brakhage, Rudolph Arnheim, Andrew Sarris, Michael John Fles, e muitos outros. Quatro anos depois começou a escrever no “Village Voice”, assinando a coluna “Movie Journal”, que manteve durante de 18 anos.
Das reuniões sobre financiamento e distribuição, que começaram em 1959, o The New American Cinema Group, composto por vinte artistas, entre os quais Mekas, fundou a ‘The Film-Maker’s Cooperative’ em 1962.

Film-Maker’s Co-op Press Conference, 1964. Da esquerda para a direita: Gregory Markopoulos, P. Adams Sitney, Andy Warhol, Ron Rice (Jonas Mekas © 1964)

Dois anos depois, novamente com Brakhage, mais Peter Kubelka e P. Adams Sitney, fundou a ‘Filmmaker’s Cinematheque’, que se fundiu com a ‘Anthology Film Archives’ em 1969 – que ainda hoje exibe e preserva filmes avant-garde da primeira metade do século XX, reunindo mais de onze mil filmes de realizadores norte-americanos.

Cedo, Jonas descobriu que o que lhe interessava era filmar a vida cotidiana e não algo encenado: fosse o mero dia-a-dia da sua família ou o ambiente artístico de Nova York. Só mais tarde é que compôs as imagens em formato de diários, tornando-se um dos pioneiros desse tipo de registo.

JONAS MEKAS AT WESLEYAN, MAY 1969



“Walden”, o primeiro da série “Diaries, Notes, Sketches”, reune imagens de 1964 até 1969. Ao longo dos seus seis rolos, organizados cronologicamente, amigos, a família dos amigos, a família de Mekas, viagens e situações, misturam-se como hipótese de criar uma história – encontrar um sentido – aos olhos do espectador. Contudo, é redutor procurar lhe dar um significado como se tratasse de um documentário da época. Mais do que um registo autêntico de preservação da memória, assemelha-se a um poema visual.

DIARIE NOTES SKETCHES ON THE CIRCUS, 1966



O imenso arquivo de Mekas fascina por propiciar a visão de personalidades que pertencem ao imaginário popular. Para exemplificar, Andy Warhol aponta Mekas como o responsável pela inclusão do cinema na sua produção artística. Entre as personalidades estão Stan Brakhage, Tony Conrad, Allen Ginsberg, Velvet Underground, Michael Snow, Kenneth Anger, Marie Menken, Ernie Gehr, James Broughton, Jack Smith, Norman Mailer, John e Jackie Kennedy, Ken Jacobs, John Lennon e Yoko Ono, Barbet Schroeder, Hollis Frampton, Timothy Leary, Harry Smith ou Edie Sedgwick.

Andy Warhol, Amy Taubin, Yoko-Ono, John Lennon e Jonas Mekas no 'Dumpling Party' de George Maciunas, em 1971

Boa parte da obra de Mekas celebra e homenageia seus amigos.
“Scenes from the Life of Andy Warhol”. Rodado entre 1965 e 1982, traz uma coletânea de "diários filmados" e conta com a participação de Andy Warhol. Entre os lugares registrados em Nova York estão La Factory, o Village Gate e a Fundação Warhol. Lou Reed, Allen Ginsberg, John Lennon, Yoko Ono, Paul Morrisey, John Kennedy Jr., Mick Jagger são alguns dos personagens focalizados em outros trechos desta obra. São poucas as filmagens apresentadas na íntegra, mais raras as de acontecimentos históricos como as da primeira aparição pública dos Velvet Underground em 1966.

SCENES FROM THE LIFE OF ANDY WARHOL FRIENDSHIPS AND INTERSECTIONS 1965 - 1982



Outra das mais importantes é “Happy Birthday to John”, de 1995, que inclui cenas da inauguração de uma exposição de John Lennon e Yoko Ono, no dia 9 de Outubro de 1971, que coincidiu com o aniversário de Lennon. O retrato da festa exala a beleza e a espontaneidade dos amigos do casal, enquanto tocam canções de alguns dos intervenientes gravadas no evento.

JOHN + YOKO BED-IN



A obra de Mekas transmite uma noção muito complexa da História, no que se refere às figuras de culto que rodeavam a sua câmara, para além da sua vivência pessoal. No processo de edição, as cenas são reapropriadas, recicladas, e adquirem novo significado. Neste sentido, Mekas é o criador do que foi testemunha e participante, ao fazer escolhas subjetivas e relativistas.

Jonas Mekas e Kenneth Anger

Os seus filmes são compostos de cenas fragmentadas, pedaços de película, muitas vezes constituídas por um só frame, mas raramente isoladas. As sequências duram de um segundo a poucos minutos, num ritmo sincopado. Sua câmara é intencionalmente instável, às vezes registra alguns segundos de gravação, em que Mekas não via o que estava filmando. Outras vezes, a câmara passa para as mãos de outra pessoa que resolveu filmá-lo. O seu estilo reflete movimento e variações rápidas de focagem. Raras vezes surgem sobreposições. Suas imagens trêmulas são caracterizadas pela cor desbotada e por tremeluzirem.

SONG OF AVIGNON - JONAS MEKAS - legendas em português (ative o captions - CC).



Mais recentemente, em 2007, Mekas utilizou o seu site como forma de usar as novas tecnologias aplicadas à sua técnica, criando uma plataforma chamada “365 Films”, que consiste na colocação online de uma curta por dia. A relação desde sempre muito íntima entre ele e o público tornou-se ainda mais próxima.


Em outubro de 1981 Jonas Mekas visitou o programa de TV Screening Room, por Robert Gardner, para discutir os esforços de preservação dos filmes do Anthology Film Archives, além de mostrar e discutir seu próprio trabalho, bem como os filmes de outros cineastas, incluindo Bruce Bailie, Deren Maya, e Joseph Cornell.

JONAS MEKAS: THE ARTIST'S STUDIO


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