20 setembro 2012

PERFORMANCE ART: MARINA ABRAMOVIĆ


Natural de Belgrado na Iugoslávia, Marina Abramović é uma artista sérvia que mora em Nova York. Pioneira na utilização da performance como forma de arte visual, iniciou sua carreira no início dos anos 1970. Estudou na Academia de Belas Artes de Belgrado de 1965 a 1970, e completou a pós-graduação na Academia de Belas Artes de Zagreb, na Croácia, em 1972.

Entre 1973 e 1975, lecionou na Academia de Belas Artes em Novi Sad, enquanto executava suas primeiras apresentações solo. Marina diz que nem sabia da existência da arte performática quando começou a fazer a sua.

VIDEO MoMa: MARINA'S FIRST PERFORMANCE



Considerada uma das artistas mais polêmicas da atualidade, seu trabalho explora a relação entre artista e público, os limites do corpo e as possibilidades da mente. Através da performance, som, fotografia, vídeo e escultura, ela suportou a dor, a exaustão e o perigo, na busca da transformação emocional e espiritual.

Sua obra figura em numerosas coleções públicas e privadas, além participar nas mais importantes mostras de arte internacionais.
Ativa por mais de três décadas, recentemente ela começou a se descrever como a "avó da arte da performance".

VIDEO MoMa: WHAT IS PERFORMANCE ART?



O tio avô de Abramović foi o Patriarca Varnava da Igreja Ortodoxa Sérvia. Seus pais eram militares que se uniram a partisans comunistas, em 1941, e atuaram na linha de frente durante a Segunda Guerra Mundial. O pai Vojin Abramović (conhecido como Vojo) foi um comandante aclamado como herói nacional, e sua mãe Danica era major do exército.

Após a guerra, Vojo foi indicado para a guarda de elite do Marechal, e Danica para a direção de uma agência que supervisionava monumentos históricos e adquiria obras de arte para os edifícios públicos – em meados dos anos sessenta, foi diretora do Museu da Revolução e Arte, em Belgrado.
"Nós éramos a burguesia comunista", Marina comenta.

VIDEO: PASSADO E FUTURO EM MONTENEGRO



O relacionamento de Marina com sua mãe sempre foi pesado. Seu pai deixou a família em 1964. Em uma entrevista publicada em 1998, ela descreveu como sua mãe tomou o controle militar, completo, sobre ela e o seu irmão Velimir (1952), um proeminente filósofo.

“Eu não tinha permissão para sair de casa depois de 10 horas da noite, até eu ter 29 anos .... Todas as performances que eu fiz na Iugoslávia aconteceram antes das 10 horas da noite, porque eu tinha que estar em casa neste horário. É completamente insano eu ter me cortado toda, me chicoteado, me queimado, quase perder a vida na estrela incendiada, tudo feito antes de 10 da noite. "


A biografia “When Marina Abramovic Dies”, de James Westcott, sugere que esses períodos de confinamento agonizante são a fonte de onde ela tira a resistência às suas performances.

Em 1971 ela se casou com um colega da Academia de Belas Artes de Belgrado, Neša Paripović, mas essa união era um tanto estranha. Cada um vivia com seus próprios pais, e Marina seguia o toque de recolher imposto pela mãe. Eles se divorciaram em 1977.

A mãe de Marina chamou a polícia quando a filha "fugiu" alguns meses mais tarde, aos 29 anos.


Em 40 anos de performances, Abramović já cortou a estrela símbolo do comunismo na própria barriga, gritou até perder a voz, escovou o cabelo até fazer sangrar o couro cabeludo, deitou nua numa cruz de gelo, desmaiou em outra estrela feita de fogo e ofereceu o corpo para intervenções do público, que podia até apontar uma arma para sua cabeça.

MARINA ABRAMOVIÇ, FOUR PERFORMANCES 1975 -76



Para Marina "A dor sempre foi a matéria-prima do artista. A diferença, no meu caso, é que uso o meu corpo para isso. A ideia é mostrar que, num minuto, você sente dor e, no outro, passou. Se posso fazer isso com a minha vida, o público também pode."

PRIMEIRAS OBRAS

RHYTHM 10, 1973

Na sua primeira performance, em 1973, Abramović explorou elementos do rito e do gesto. Fazendo uso de 20 facas e dois gravadores, a artista jogou uma manobra tradicional Russa, na qual uma faca é movimentada de forma ritmica entre os dedos abertos da mão. Cada vez que ela se cortava pegava uma nova faca, entre as 20 selecionadas, e registrava a operação com o gravador.


Depois de cortar-se 20 vezes, ela tocou a fita com os sons do jogo e tentou repetir os mesmos movimentos, tentando reproduzir os erros, fundindo passado e presente. Ela começou a explorar as limitações físicas e mentais do corpo - a dor e os sons das facadas, os sons duplos da história e da replicação.

VIDEO: RHYTHM 10



Com esta obra, Abramović começou a considerar o estado de consciência do artista de performance. "Uma vez que se entra no estado de execução, você pode levar o seu corpo a fazer coisas que você absolutamente nunca poderia normalmente."

RHYTHM 5, 1974

Nesta performance Abramović quis re-evocar a energia da dor corporal extrema, usando um grande estrela encharcada de petróleo que ela incendiava no início da execução. Do lado de fora da estrela, Abramovic cortava as unhas das mãos, dos pés e os cabelos. Quando terminava com cada um deles, jogava os recortes nas chamas, criando uma explosão de luz cada vez.

Queimando a estrela comunista de cinco pontas representou a purificação física e mental, sem negligenciar as tradições políticas de seu passado. No ato final de purificação, Abramović pulou através das chamas, impulsionando-se para o centro da grande estrela.


Devido à luz e fumaça emitida pelo incêndio, o público observando não percebeu que, uma vez dentro da estrela, a artista havia perdido a consciência por falta de oxigênio. Alguns membros da platéia perceberam o que tinha ocorrido somente quando as chamas chegaram muito perto de seu corpo e ela permaneceu inerte. Um médico e vários membros do público intervieram na apresentação e a livraram da estrela.

Mais tarde Abramović comentou sobre esta experiência: "Fiquei muito irritada porque eu entendi que há um limite físico: Quando você perde a consciência não pode estar presente, você não pode executar".

RHYTHM 2, 1974

Como uma experiência, testando se um estado de inconsciência pode ser incorporado em uma performance, Marina concebeu uma performance em duas partes.

Na primeira parte ela tomou um comprimido prescrito para catatonia, uma condição em que os músculos da pessoa são imobilizados e permanecem em uma única posição por horas. Sendo completamente sã, Abramović reagiu violentamente à droga, tendo convulsões e movimentos incontroláveis para a primeira metade da performance.

Embora sem qualquer controle sobre os movimentos do corpo, sua mente estava lúcida, e ela observou o que estava ocorrendo.


Dez minutos depois de os efeitos dessa droga terem passado, Abramović ingeriu outro comprimido - desta vez receitado para pessoas agressivas e deprimidas - o que resultou em imobilidade geral. Corporalmente ela estava presente, mas mentalmente foi completamente removida. (Na verdade, ela não tem nenhuma memória do tempo transcorrido.)

Este projeto foi um componente precoce de suas explorações acerca das conexões entre corpo e mente que mais tarde a levou para o Tibete e o deserto australiano. Após Ritmo 2, começou a desenvolver o resto da série de projetos sobre o ritmo, continuamente testando sua resistência.

RHYTHM 0, 1974

Para testar os limites da relação entre artista e público, Abramović desenvolveu uma de suas mais difíceis (e mais conhecida) performances. Ela atribuíu um papel passivo à si própria, e outro papel ao público como sendo a força que atuaria sobre ela.


Marina colocou sobre a mesa 72 objetos, que as pessoas eram autorizadas a utilizar da forma que escolhessem. Alguns deles eram objetos que poderiam dar prazer, enquanto outros poderiam ser manejados para infligir dor, ou para prejudicá-la. Entre eles, estavam uma rosa, uma pena, mel, um chicote, uma tesoura, um bisturi, uma arma com uma única bala.

Durante seis horas, a artista permitiu aos membros da audiência manipular seu corpo e as ações. Inicialmente, os membros da platéia reagiram com cautela e modéstia, mas com o passar do tempo (e artista permanecia impassível) as pessoas começaram a agir de forma mais agressiva.


Como Abramović descreveu mais tarde:
"O que eu aprendi foi que... se você deixar isso para o público, eles podem matar você."... "Eu me senti realmente violada: eles cortaram as minhas roupas, espetaram os espinhos da rosa no meu estômago, uma pessoa apontou a arma para a minha cabeça, e outra levou a arma embora. Isto criou uma atmosfera agressiva. Depois de exatamente 6 horas, como planejado, eu me levantei e comecei a andar em direção à platéia. Todo mundo saiu correndo para escapar de um confronto real."

VIDEO: I'M A MIRROR FOR THE PUBLIC - RHYTHM 0



Marina não fuma, não bebe e não usa drogas. Em vez de alucinógenos, a artista recorre à fome para se entorpecer. "Depois de três dias só tomando água, toda a sua energia vai para a gordura e você atinge o estado de consciência mais incrível. Com o passar dos dias sem comer, você fica cada vez mais 'alto', enquanto, com a droga, você fica uma merda no dia seguinte."

TRABALHOS COM ULAY (UWE LAYSIEPEN)

A carreira de Marina Abramović divide-se em três períodos: antes, durante e depois de conhecer Uwe Laysiepen, ou Ulay, com quem teve uma relação turbulenta.


Ele era filho de um soldado nazista, nascido em um abrigo antiaéreo de Solingen, cidade industrial da Westfália. Aos 15 anos, ficou órfão e teve que se virar sozinho.

VIDEO: MARINA E ULAY



Marina Abramović encontrou Ulay no dia 30 de novembro de 1975. O dono de uma galeria em Amsterdã pediu que ele a buscasse no aeroporto e ajudasse na logística da filmagem da performance “Thomas Lips” para a TV holandesa. A química entre eles foi imediata.

Até então, a arte de Ulay realizava autorretratos em Polaroid, documentando suas experiências com mutilação - piercing, circuncisão, tatuagens - e uma obsessão com a dualidade macho/fêmea.

VIDEO: AAA AAA – 1978



Naquela noite, após um jantar turco, ele mostrou o diário dele, ela mostrou o dela. Ambos haviam arrancado a página de seu aniversário, coisa que ela encarou como um sinal cármico. Eles fazem aniversário no mesmo dia, 30 de novembro, mas em anos diferentes – ela em 1946 e Ulay em 1943.

Marina conta que, em seguida, foram diretamente para a casa dele e ficaram na cama durante dez dias. E acrescenta: "Quando voltei para casa, fiquei desesperada de amor e não conseguia andar ou falar".


Quando Abramović e Ulay começaram sua parceria, os principais conceitos que eles exploraram foram o ego e identidade artística. Este foi o início de um trabalho colaborativo influente. Cada artista estava interessado nas tradições de suas heranças culturais e no seu desejo indivídual para o ritual.

Fizeram arte simbioticamente durante 12 anos, entre 1976 e 1988. Passaram um ano inteiro com aborígenes no deserto australiano. Amsterdã era sua base, mas sua casa na estrada, na Europa, era uma van.

VIDEO: THE OTHER - REST ENERGY, 1980



Conseqüentemente, eles decidiram formar um ser coletivo chamado de “The Other”, e falaram de si como partes de um "corpo com duas cabeças". Se vestiam e se comportavam como gêmeos, e criaram uma relação de total confiança. Como eles definiram essa identidade fantasma, suas identidades individuais se tornaram menos acessíveis.

Embora alguns críticos tenham explorado a idéia de um estado de ser hermafrodita como uma afirmação feminista, Abramović afirma este conceito é consciente. Seus estudos sobre o corpo, ela insiste, sempre se preocuparam principalmente com o corpo como unidade de um indivíduo, uma tendência que ela remonta ao passado militar de seus pais.

VIDEO: EXPANDING IN SPACE - 1977



Ao invés de se preocupar com as ideologias de gênero, Abramović / Ulay exploraram os estados extremos de consciência e sua relação com o espaço arquitetônico. Eles criaram uma série de obras em que seus corpos criavam espaços adicionais para interação com o público.

Em "Relation in Space" (1976) eles correram ao redor do ambiente - dois corpos como dois planetas, misturando energia masculina e feminina em um terceiro componente chamado“that self.”

Em "Relation in Movement" a dupla de artistas revezou, dando 365 voltas dentro do museu dirigindo um carro; no percurso uma substância era negra liberada pelo carro formando um tipo de escultura, cada volta representava um ano. (Depois de 365 voltas ingressava o Novo Milênio.)


Ao discutir esta fase histórica de suas performances, Abramović afirma que "O principal problema neste relacionamento era o que fazer com os egos dos dois artistas. Eu tinha que descobrir como colocar o meu ego para baixo, assim como ele, para criar algo como um estado de ser hermafrodita que chamamos de auto-morte".


Para criar este estado de "auto morte", a dupla desenvolveu uma obra em que conectavam suas bocas e respiravam o mesmo ar até exalar todo o oxigênio disponível. Dezesete minutos depois ambos caíam no chão, inconscientes, com os pulmões cheios de dióxido de carbono. Este trabalho pessoal explorou a idéia de capacidade de um indivíduo de absorver a vida de outra pessoa, trocar e destruí-lo.


Em uma das experiências mais famosas, “Imponderabilia” (1977, refeito em 2010), o casal se posicionava em uma porta e pedia que o público se espremesse por uma passagem apertada formada pelos seus corpos completamente nus. Para passar, o público precisava escolher qual deles enfrentar.

VIDEO: IMPONDERABILIA, 1977



No dia 30 de março de 1988, Marina e Ulay fizeram sua última performance como dupla. Após 12 anos de relações tensas, ambos decidiram fazer uma jornada espiritual para terminar com o relacionamento.

VIDEO: A MURALHA CHINESA



Ela começou a caminhar pela Muralha da China vinda do leste, nas montanhas, e Ulay saiu do oeste, em um deserto. Após três meses encontraram-se no meio da muralha para de despedirem.


Abramović concebeu esta caminhada em um sonho, era um final apropriado para um relacionamento cheio de energia, misticismo e atração.
Como Abramović descreveu: "Essa caminhada tornou-se um drama pessoal completo. Ulay começou a partir do deserto de Gobi e eu do Mar Amarelo. Depois de cada um de nós andar 2.500 quilômetros, nos encontramos no meio e dissemos adeus. "

VÍDEO: MARINA ABRAMOVIC AND ULAY - THE LOVERS (THE GREAT WALL: LOVERS AT THE BRINK)



"Nós precisávamos de uma forma certa para o final, caminhando esta enorme distância, um em direção ao outro. É muito humano. É de uma forma mais dramática, mais como um final de filme ... Porque no final você está realmente sozinho, por mais que se faça."
Esta experiência de despedida resultou na performance “TheLovers - The Great Wall Walk”

VIDEO: THE LOVERS - THE GREAT WALL WALK



Marina relatou que durante sua caminhada, reinterpretava sua conexão com o mundo físico e com a natureza. Sentiu os metais no solo influenciar o seu estado de ser, e ponderou sobre os mitos chineses em que a grande muralha é descrita como um "dragão de energia".

TRABALHOS RECENTES

SEVEN EASY PIECES

Com início em 09 de novembro de 2005, Abramović apresentou um conjunto de obras que ela chamou de ‘Seven Easy Pieces’ no Museu Guggenheim, em Nova York.

Durante sete noites consecutivas por sete horas, ela recriou as primeiras performances de cinco artistas, realizadas nos anos 60 e 70, além de re-executar sua obra "Lips of Thomas" (1975) e apresentar uma nova performance na última noite – “Entering the Other Side” (2005).


As apresentações foram árduas, exigindo a concentração física e mental da artista. Incluíndo as performances de Abramović, foram recriadas “The Conditioning” (1973) de Gina Pane, que exigiu deitar em uma armação suspensa sobre uma grade de velas acesas, e a performance “Seedbed” (1972) de Vito Acconci, em que a artista se masturbou sob o piso da galeria enquanto os visitantes caminhavam em cima.

As outras obras apresentadas foram “Body Pressure” (1974) de Bruce Nauman, “Action Pants: Genital Panic” (1969) de Valie Export e “How to Explain Pictures to a Dead Hare” (1965) de Joseph Beuy.


Argumenta-se que a re-execução dessas obras por Abramović foi como uma série de homenagens ao passado, embora muitas das performances tenham sido alteradas a partir de seus originais.

VIDEO: SEVEN EASY PIECES



Marina Abramović é descrita por James Westcott, que prepara a sua biografia, como a artista de performance mais importante no mundo. Para ele, o que a diferencia é o seu lado de atriz, muito apurado, que atua de modo simbiótico com a arte da performance. “Tanto quanto ser uma performer carismática, Marina também possui um apurado senso estético. Ela é uma mestra em criar imagens intensas que irão permanecer por muito mais tempo do que a duração da obra” – afirma Westcott.

THE ARTIST IS PRESENT

Entre 14 de março a 31 de maio de 2010, o Museu de Arte Moderna de Nova York realizou uma grande retrospectiva do trabalho de Abramović, foi a primeira exposição sobre a arte da performance na história do MoMA. A visitação bateu o recorde para um artista vivo: 850 mil expectadores.

A "obra" principal foi exibida no decorrer da retrospectiva: era a própria Marina, apresentando "The Artist is Present", uma performance com cerca de 700 horas de estática e silêncio.


Durante quase 3 meses e por várias horas do dia, Marina sentava-se silenciosa em uma cadeira, de frente para uma segunda cadeira que ficava vazia. Um a um, os visitantes do museu eram convidados a se revezar sentando à sua frente e a olhar para ela pelo maior período de tempo que conseguissem. Muitos não aguentavam o olhar de Abramović por muito tempo e começavam a chorar.

VIDEO: PERFORMANCE “THE ARTIST IS PRESENT” (encontro com Ulay)



Marina comentou a reação do público: "Não me pergunte por que eles choravam. Pergunte a eles. Só sei que, às vezes, via tanta dor em algumas pessoas que eu mesma chorava, por dentro".


Muita gente famosa também ‘sentou’ com a artista, mas ela nem sempre percebeu. Alguns eram amigos, como Lou Reed, Matthew Barney e Björk. Sharon Stone, Michael Stipe, Pati Smith e Isabella Rossellini passaram por lá.
O ator James Franco aproveitou o intervalo nas filmagens do filme "127 Horas" para sentar com Marina.

VIDEO: JAMES FRANCO ON DISPLAY



Até Lady Gaga quis participar da performance, mas desistiu quando viu a fila. Mesmo assim anunciou no Twitter que estava no museu, levando centenas de adolescentes para lá. "Sou muito grata a Lady Gaga. Criou um novo público para mim" disse Abramović.

VIDEO: LADY GAGA FALA SOBRE MARINA ABRAMOVIĆ



Durante a mostra, Marina perdeu dez quilos com a rotina de sete horas diárias sem comer, beber e fazer xixi. "Fiz um buraco na cadeira, caso precisasse, mas não usei."

Para documentar esta obra, surgiu Marina Abramović Made Me Cry , um blog que registrou as fotos de algumas dessas pessoas que choraram diante de um longo olhar da artista, junto com o tempo que cada um levou para chorar - de 2 a 391 minutos.


A mostra e a história da artista deram origem ao documentário "Marina Abramović: The Artist is Present", lançado em Sundance e exibido no Festival de Berlim.

MARINA ABRAMOVIC - THE ARTIST IS PRESENT (CONTEMPORARY ART DOCUMENTARY)



O documentário foi bem recebido pela crítica, que elogiou sua abordagem didática para os ‘não iniciados’ nas artes visuais ao mesmo tempo em que consegue surpreender os já familiarizados com o seu trabalho.

VIDEO: MARINA ABRAMOVIC E MATTHEW AKERS FALAM SOBRE O FILME NO FESTIVAL DE SUNDANCE



O diretor Matthew Akers, que acompanhou Abramović por mais de um ano, mostra as fragilidades da artista, suas incertezas e até mesmo as picuinhas. Ela fala da mãe durona, de como cresceu "num lar sem amor" e de como foi criada para ser um soldado comunista.

Por uma hora, a nata do cinema independente americano fechou a boca. Não era um filme que passava, e sim Marina Abramović comemorando. Estavam todos em Park City, cidadezinha escondida entre picos nevados e estações de esqui em Utah, para a ‘festa muda’ de pré-estreia do documentário no festival de Sundance.


A regra era simples: os convidados estavam restritos a sorrir, se abraçar e beber champanhe usando jalecos brancos e fones de ouvido antirruídos e não falar uma palavra.

"Foi fabuloso", disse Robert Redford, fundador do evento, após os convidados serem "liberados" para conversar. "Amo o fato de que algumas pessoas realmente não sabem o que fazer com seu silêncio."

TRÊS FUNERAIS

Recentemente, depois do velório da amiga e escritora Susan Sontag, Marina decidiu entender sobre a sua morte. "O funeral não refletia o espírito dela." Marina saiu de lá direto para um advogado e chamou o diretor americano Robert Wilson para dirigir a peça "The Life and Death of Marina Abramović", que tem o ator Willem Dafoe e o cantor Antony Hegarty (do grupo Antony and the Johnsons) no elenco.

No enredo, o funeral da artista acontece em Belgrado, Amsterdã e Nova York. Há três caixões, mas ninguém sabe onde está o corpo.

VIDEO: THE LIFE AND DEATH OF MARINA ABRAMOVIĆ



NOVOS PLANOS

MARINA ABRAMOVIĆ INSTITUTE FOR THE PRESERVATION OF PERFORMANCE ART

Aos 25 anos, um vidente croata avisou Marina que ela não faria sucesso antes dos 50 - idade com que ganhou o Leão de Ouro na Bienal de Veneza com uma performance.
Apesar de já ter cumprido vários objetivos, ainda tem muitos de planos.

Nos primeiros trabalhos Marina Abramović fazia tudo sem dinheiro, com o ex-marido Ullay. Depois da retrospectiva no MoMA, em 2010, passou a vender mais e se animou a investir tudo em um instituto.
"Passei 40 anos tentando fazer a arte performática sair do alternativo e virar 'mainstream'. Acho que consegui”.


Aos 65 anos, a artista comprou um teatro em Hudson, a duas horas de Manhattan, e criou o “Marina Abramović Institute for the Preservation of Performance Art”, sob a liderança do MoMA.

Ela se uniu ao escritório do arquiteto Rem Koolhaas – OMA - para criar um projeto de última geração, parte educativa e outra artística e representativa, com foco nos métodos interpretativos da artista, e na educação do público para a observação e apreciação de interpretações de longas durações.

Marina imagina que o Instituto explore formas de arte baseadas no tempo e no imaterial, incluindo a performance, dança, teatro, cinema, vídeos, ópera e música. "É um projeto de vida. Quero que seja meu legado."

VIDEO: THE ARTIST IS PRESENT – INSTITUTE FOR LONG DURATION PERFORMANCE ART



OMA é o escritório de arquitetura perfeito para fazer parceria com Abramović, já que os dois questionam a ideia de percepção e a experiência tanto a nível psicológico, quanto espacial.

O edifício irá expor a todos os visitantes como artistas, através da interconexão dos espaços, uma vez que você sempre estará vendo alguém, não importa onde esteja.


Além disto, o Instituto incluirá grandes elementos individuais, tais como as cadeiras, desenhadas pelo OMA, especificamente criadas para performances longas.

O novo diretor do OMA em Nova York, Shohei Shigematsu comentou sobre estas cadeiras como “em parte uma cadeira de massagens, em outra de rodas”, o que significa que caso alguém caia no sono, um membro do Instituto empurrará sua cadeira e seu ocupante para uma área de dormir.


O Instituto está previsto para funcionar 2014, com orçamento estimado de US$ 15 milhões. Agora ela se prepara mais um dos maiores desafio da sua vida: conseguir todo o dinheiro em um ano, sem recorrer a patrocinadores milionários - “Pessoas que dão muito dinheiro querem algum retorno”. A saída é seu público “extremamente jovem”.

Endereço do Instituto:http://www.immaterial.org/


Marina, que desde o início dos anos 1990 visita o Brasil frequentemente em busca de matérias-primas (cristais e pedras preciosas) para suas obras, diz que só vai interromper a busca pelos US$ 15 milhões para preparar um grande projeto que virá para o Brasil em 2014.

NO BRASIL

O Brasil se tornou uma espécie de refúgio para Abramović, que se instalou por aqui na virada de 2011 para 2012.

Durante a visita ficou oito dias sozinha em uma casa em Iporanga, no interior de São Paulo, com 29 litros de leite. "O leite absorve a radiação do seu corpo e reforça o sistema imunológico", diz, explicando a dieta de limpeza radical.
Também foi se encontrar com xamãs em Curitiba. Diz que três dias com os curandeiros fizeram mais conserto que três anos de psicanálise.

A visita ao Brasil representa um fim e um recomeço. Veio se energizar depois da maratona de quase dois anos que envolveu a retrospectiva de sua obra no MoMA de Nova York e o documentário sobre sua carreira.

VIDEO: CANAL ENTREVISTA MARINA ABRAMOVIC



Marina voltará ao Brasil em dezembro. Ficará dois meses pela Amazônia e por Alto Paraíso, em Goiás, para se encontrar com xamãs ou com “todas as possibilidades de aprender diferentes percepções do mundo”. Quer melhorar os “conhecimentos sobre energia”. Virá acompanhada de cinco pessoas para documentar o diário da viagem e talvez realizar um filme.

VIDEO: THE ABRAMOVIĆ METHOD, MY BODY, MY PERFORMANCE, MY TESTAMENT



Em janeiro de 2013 ela retorna à NY, mas no mesmo ano pretende trazer ao Brasil a exposição “Vida e morte de Marina Abramović”, montar a peça homônima em que é dirigida por Robert Wilson ao lado do cantor Antony Hegarty, e ensinar o “Método Abramovic” — segundo ela, “uma forma de obter um estado mental de completa clareza para desenvolver as próprias ideias”.

Marina também planeja montar uma nova exposição com pedras locais para rodar a América Latina em 2014. Com tudo isso, pensa em ter uma casa provisória por aqui... "Não dá para viver num lugar sossegado, a natureza não precisa da arte, é perfeita sem a gente."

VIDEO: MARINA ABRAMOVIĆ: AN ARTIST’S LIFE MANIFESTO

2 comentários:

Renata Sampaio disse...

Muito bom esse material! Completo e super atualizado. Gostei muito! Parabens!

Bonecos de Madeira disse...

Ótimo! Obrigada o texto esta atualizado, muito rico e ao mesmo tempo simples e dinâmico. Parabéns pelo trabalho da escrita e pela publicação!