29 agosto 2012

CONSUMO: O PRIMEIRO ANEL TODO DE DIAMANTE NO MUNDO


Trabalhar uma pedra preciosa é um desafio que requer arte e precisão. Ao contrário do que o senso-comum valoriza em uma pedra - a cor e a pureza, a qualidade do corte é a característica mais importante porque define sua beleza e brilho.
Em maio de 2011 a joalheria suíça Shawish apresentou o “World’s First All-Diamond Ring” - o primeiro anel no mundo feito inteiramente com um simples corte em uma única pedra de diamante com 150 quilates.

VIDEO: EVENTO DE APRESENTAÇÃO DO "WORLD'S FIRST DIAMOND RING" NA SHAWISH JEWELLERY



Até então, a confecção de uma peça deste tipo parecia impossível. As propriedades de um diamante colocam uma série de obstáculos à lapidação porque possuem pontos de fraqueza que podem partir a pedra, ou a simples tentativa de um corte pode alterar a sua cor. Para cumprir o maior desafio deste projeto, que foi manter a integridade da enorme pedra, a joalheria teve de investir em muita pesquisa e tecnologia.
Neste sentido, o tempo e o esforço dedicados para o sucesso da produção do anel compensou todas as dificuldades. Após um ano de trabalho duro, com uma equipe dedicada de especialistas e conhecedores, foi desenvolvido o dispositivo a laser específico para cortar minuciosamento o diamante bruto com 150 quilates.


Segundo o realizador do projeto, Mohamed Shawesh, a idéia para a elaboração do anel mais exclusivo no mundo surgiu na busca pela paixão e pela inovação. "Um anel feito inteiramente de um diamante facetado sempre me pareceu uma fantasia que parecia impossível, por isso, decidi embarcar na aventura de criar o anel de diamante perfeito que é o epítome da arte."
O “World’s First All-Diamond Ring” está avaliado em aproximadamente US$ 70 milhões.

VIDEO: ANIMAÇÃO EM 3D DO "WORLD'S FIRST DIAMOND RING”



LINK EXTERNO - http://www.shawish-jewellery.com/index.html

17 agosto 2012

LENI RIEFENSTAHL: A DEUSA IMPERFEITA


A história de Helene Bertha Amalie "Leni" Riefenstahl começa no dia 22 de agosto de 1902, no apartamento da família em Prinz-Eugen-Straße em Berlim. Seu pai, Alfred Riefenstahl, era um homem de negócios próspero que trabalhava no ramo de calefação e ventilação. Seu irmão mais jovem, nascido três anos e meio depois, morreria aos 38 anos na Segunda Guerra Mundial, no front russo. Leni cresceu em Berlim e viveu em casa até os 21 anos. Contra os desejos do pai, estudou dança e se apresentou em Munique, Berlim e Praga.


O curso de sua vida mudou dramaticamente quando começou a sentir dor em seus joelhos, extremamente fragilizados pela dança. Um dia, esperando por um trem de metrô na estação de Nollendorfplatz em Berlim, Leni viu um cartaz de propaganda na plataforma da estação. A imagem era a de um homem subindo uma montanha, promovendo um filme que estava sendo exibido ali próximo, com nome profético de “Des Berg Schicksals” ("Montanha do Destino"). Em vez de ir para o médico onde consultaria, deixou a estação em direção à sala de cinema.


Impressionada com as possibilidades da cinematografia, foi em busca de contato com o diretor do filme para pedir trabalho como atriz. A chance surgiu alguns meses depois quando, após uma bem sucedida cirurgia nos joelhos, conheceu o diretor Arnold Fanck em Berlin. Dezoito meses após o dia do seu “transe” na estação de Nollendorfplatz, Leni estreava no cinema em frente às câmeras, atuando em “Der Berg Heilige” (1926).
A partir de então, ela estrelou vários filmes de montanhismo, filmando em externas na neve com pouca roupa, escalando montanhas íngremes, descalça.


Em 1932 passou à direção filmando "A Luz Azul", a partir de um roteiro feito em conjunto com Bela Balázs. O sucesso do filme abriu à jovem cineasta, o caminho para o estrelato. As circunstâncias que levaram Leni Riefenstahl a saltar da posição de atriz para a direção de cinema nunca foram bem explicadas sequer por ela própria.


Seu interesse, a princípio, estava em filmes de ficção, mas já em 1933 ela dirigiu um curta-metragem sobre um comício do Partido Nazista.
Em meados de 1932, Riefenstahl presenciou uma manifestação oficial do partido nazista no Palácio dos Esportes de Berlim, onde viu e ouviu Hitler pela primeira vez. Impressionada com o poder hipnótico que ele exercia, quis conhecê-lo de perto, sem maiores análises sobre os valores políticos.

O TRIUNFO DA VONTADE


O encontro aconteceu pouco depois, formalmente, às margens do Mar do Norte, numa longa conversa em que Hitler revelou seu desejo de que a jovem cineasta dirigisse um filme de cunho político favorável à causa nazista. A princípio, ela se recusou explicando que somente dirigia filmes que a motivassem artisticamente, e sugeriu que Hitler contratasse Walter Ruttmann. A resistência durou pouco. Segundo ela, para evitar o ostracismo artístico ao qual seria condenada, decidiu dirigir um documentário sobre congresso nacional do partido em Nuremberg em 1934, e realizou O Triunfo da Vontade, um documentário considerado por muitos como uma das melhores obras de cinema já produzidas.

“TRIUMPH DES WILLENS” (1935) - TRIUMPH OF THE WILL - Legendas PT BR



Este documentário de 63 minutos fundou não apenas uma nova fase para o fascismo, mas criou uma nova forma de propaganda - copiada ainda hoje para a publicidade - e revolucionou o estilo, conteúdo e forma do filme-documentário. Sem montagem ou cenas preparadas, simplesmente com a disposição de 13 câmeras espalhadas estrategicamente, Riefenstahl conseguiu fazer das imagens do evento um espetáculo que ajudou definitivamente na ascensão do ditador, e deu forma ao padrão estético nazista.


Hitler recebeu um documento que atestava a força da coletividade, sua capacidade de comandar as massas e a submissão de uma força poderosa ao regime. Mas Riefenstahl também registrou a transformação de um povo em uma massa, a perda da individualidade e, dessa forma, criou um registro histórico impressionante de um dos episódios mais analisados e estudados da história humana: a submissão do povo alemão a Hitler.
Ela prosseguiu, realizando um filme sobre a Wehrmacht (exército alemão), intitulado O Dia da Liberdade, de 1935.

Entretanto, foi com o filme "Olympia" sobre as olimpíadas de 1936, que Riefenstahl afirmou-se internacionalmente como cineasta, arrebatando diversos prêmios, entre eles o "Leão de Ouro" do festival de Veneza.
Para as filmagens, Leni comandou uma equipe de 60 câmeras. Três tipos diferentes de filmes em preto e branco - Agfa (planos arquitetônicos), Kodak (retratos) e Perutz (campos, grama) - foram usado para filmar mais de 400 km. de filme.


No processo, Riefenstahl desenvolveu ou aperfeiçoou muitas das técnicas de fotografia de esporte atuais: imagens em câmera lenta, filmagens subaquáticas, planos filmados do alto (em torres) ou de baixo (em covas), tomadas aéreas e muito mais. O resultado é considerado uma obra-prima cinematográfica clássica. O documentário foi premiado no UFA Palast de Berlin, no aniversário de Hitler em 20 de abril de 1938.



Baseado principalmente no culto e superioridade da beleza, Riefenstahl nega que seu objetivo tenha sido interpretar o culto fascista ao corpo ou a superioridade entre raças, e cita as imagens de atletas negros como o recordista americano Jesse Owens. Apesar disso o documentário de duas partes foi amplamente utilizado pelos nazistas como propaganda ariana.

OLYMPIA 1. TEIL — FEST DER VÖLKER (FESTIVAL OF NATIONS)



OLYMPIA 2. TEIL — FEST DER SCHÖNHEIT (FESTIVAL OF BEAUTY)



O FIM DO REGIME

Após a Segunda Guerra Mundial, Leni passou quatro anos presa num campo de concentração francês (1945-1948), acusada de usar prisioneiros nas filmagens de “Tiefland”. Mas julgada por quatro vezes foi absolvida de quaisquer crimes, exceto ao de pertencer ao "Partido". Contudo, estava acabada profissionalmente. Com a derrocada do regime, ela foi rechaçada até mesmo pelos que antes a elogiavam e estigmatizada como um dos símbolos do nazismo.
Leni Riefenstahl foi uma vítima de sua extraordinária competência artística. Ainda que outros artistas tivessem servido muito mais ao regime, sua criatividade e talento a colocaram no primeiro plano. Mesmo assim, o governo alemão continuou lhe pagando os direitos pela divulgação de seus filmes.


Sua tentativa de retomar a carreira nos anos 50 também resultou inútil. Leni tentou produzir outros filmes no pós-guerra, mas foi boicotada por resistências, protestos e duras críticas. O boicote impediu Leni de financiar suas produções. Os poucos filmes curta-metragem que conseguiu realizar foram financiados pessoalmente e, novamente, refletiram sua grande engenhosidade.

OS NUBAS

Após o processo em que foi absolvida da acusação de ser nazista, Leni Riefenstahl decidiu trocar as filmadoras por câmaras fotográficas. Procurando o silêncio e processando quem a acusava (ganhou dezenas de processos), retirou-se para a África onde produziu documentários fotográficos sobre a vida selvagem.
Ela chegou ao Sudão em 1962 e foi a primeira mulher branca a receber permissão do governo sudanês para estudar suas tribos nativas.

VIDEO: “EIN TRAUM VON AFRIKA” (The dream of Africa)

PARTE 1



PARTE 2



Leni viveu junto às tribos até 1969 onde, com filmes e trabalhos fotográficos, tornou famoso o povo Nuba de Kau, no sul do Sudão. Apaixonada pela beleza africana dos nubas chegou a aprender sua língua e disse que estes foram os anos mais felizes da sua vida. Com 60 anos descobriu esta nova raça cheia de força vital e fotografou suas danças.


Os nubas são um povo acostumado à adversidade, com uma história marcada por fome, guerras e isolamento, e têm uma tradição muito distinta de boa parte do país, especialmente da maioria muçulmana. Eles são pagãos, permitem o adultério e têm um famoso gosto por bebidas alcoólicas.


O resultado da incursão de Leni na região foi um trabalho magistral de fotografia que se transformou em dois livros com fotos dos guerreiros da tribo, em 1974 e 1976, onde a fotógrafa e cineasta conta que a razão da pintura corporal dos Nuba não se deve a um conceito religioso, ancestral, ou geográfico: simplesmente se pintavam para exteriorizar seu estado de ânimo naquele dia.


O material que ela produziu nesse período, quando viveu em uma tribo africana, é tido pelos críticos como o ensaio fotográfico mais importante de sua carreira.
Numa de suas idas ao continente negro sobreviveu à queda do helicóptero que viajava em 2000. Ela diz ter "Cinco vidas", título de seu último livro foto-biográfico.



IMPRESSÕES SUBAQUÁTICAS

Aos 73 anos, em 1975, Leni Riefenstahl descobriu o mergulho e a beleza do mundo subaquático. Dedicou-se a aprender mergulho em alto mar e começou a praticar fotografia submarina. Realizou diversos trabalhos fotográficos no Mar Índico. Com mais de 90 anos ainda trabalhava como fotógrafa submarina ao lado do marido, um mergulhador muito mais jovem do que ela.


Uniu-se ao Greenpeace e lançou, no seu centésimo aniversário em 22 de agosto de 2002, um novo filme intitulado “Impressionen unter Wasser” (Impressões Subaquáticas), um documentário da vida sob os mares. Isto a tornou a cineasta com mais idade a rodar um filme, superando o português Manoel de Oliveira, que com 93 anos rodou "Vou para casa" e o italiano Michelangelo Antonioni que aos 89 anos dirigiu "Eros".

VIDEO: “IMPRESSIONEN UNTER WASSER” (Impressions of the Deep)

PARTE 1



PARTE 2



PARTE 3



PARTE 4



A DEUSA IMPERFEITA

Nos anos 90 parece que o mundo resolveu prestar atenção ao talento à vida de Leni Riefenstahl (quando então ela resolveu falar algo sobre sua vida), e vários trabalhos foram produzidos, entre textos, biografias.
A bailarina, coreógrafa, atriz, produtora, cineasta e diretora de cinema, fotógrafa, repórter, esquiadora, alpinista e escaladora de montanha, e mergulhadora, tinha 91 anos quando, finalmente, um documentário de 188 minutos dirigido por Ray Müller - “The Wonderful, Horrible Life of Leni Riefenstahl” - acabaria por ajudar a redimir a diretora. Exibido no Brasil pelo canal a cabo GNT, com o nome de “Leni Riefenstahl - A Deusa Imperfeita”, o documentário mostra a diretora em sua face humana, relembra seus filmes, e apresenta Leni em momentos e depoimentos emocionantes.

DOCUMENTÁRIO: “A DEUSA IMPERFEITA”

PARTE 1



PARTE 2



PARTE 3



PARTE 4



Mas embora a qualidade de ‘gênio à frente de seu tempo’ esteja estampada na obra de Leni Riefenstahl, a sombra do homem que lhe abriu caminho confunde-se com o escuro desfiladeiro que se pôs à sua frente por obra do mesmo homem. Riefenstahl tornou-se refém do destino e da história, um misto de deusa pelo talento e de imperfeição por ter atuado em uma época e um país destinados a denegrir a história do século XX.

O FINAL

Em outubro de 2002, quando Leni tinha 100 anos, autoridades alemãs decidiram arquivar o inquérito contra ela por afirmar corretamente no passado que "todos e cada um" dos ciganos que foram recrutados em um campo de concentração para aparecer em seu filme “Tiefland” tinham sobrevivido à guerra.


Berta Helene Riefenstahl morreu enquanto dormia no dia 8 de setembro de 2003, em sua casa em Pöcking, na Alemanha. Só foi vencida pela morte depois de 101 anos, mas nunca superou a discriminação histórica que a acompanhou por mais de meio século. Apesar de todo o seu talento, nunca conseguiu se separar das associações com o Terceiro Reich. Em seu obituário, foi dito que Leni foi a última figura famosa da era nazista na Alemanha a morrer.
Leni Riefenstahl é renomada na História do Cinema pela sua coerência na constante busca pela beleza, e por ter desenvolvido novas estéticas e recursos técnicos em seus filmes, especialmente em relação a ângulos de câmera, enquadramentos, movimentos de massas e nus.