27 setembro 2011

COM ITINERÂNCIAS E OLHAR LATINO-AMERICANO, 2011 TEM BIENAIS RENOVADAS

O ano de 2011 se aproveita do bom momento da arte brasileira, que mostra novidades nas bienais pelo mundo.

MERCOSUL

Uma Bienal que não é feita apenas de exposições. Essa é uma das características da 8ª edição da Bienal do Mercosul, que acontece em Porto Alegre até 15 de novembro. As exposições em Porto Alegre abriram em setembro, mas a Bienal começou muito antes, com viagens de artistas por diversas regiões do Estado e a inauguração da Casa M, um espaço cultural que movimenta a cena artística da Capital gaúcha, desde maio.


8ª Bienal do Mercosul, 2011 por superalbertofilho

Com o tema ‘Ensaios de Geopoética’ a Bienal do MERCOSUL reúne cerca de 100 artistas de diversos países em sete grandes ações, abordadas por meio de duas estratégias – expositivas e ativadoras. Nas ações ativadoras há uma ênfase na relação entre artista e público. Nas exposições propriamente ditas, a ênfase está na obra e na sua relação com os trabalhos dos artistas e com o tema proposto.
Mais de dez cidades do Rio Grande do Sul recebem artistas, obras, exposições e atividades pedagógicas, entre elas Bagé, Caxias do Sul, Ijuí, Montenegro, Pelotas, Santa Maria , Santana do Livramento, São Miguel das Missões e Teutônia. Dessa forma, a cidade de Porto Alegre e o território do Rio Grande do Sul são vistos como lugares a descobrir e a ativar por meio da arte. A intensa atuação dos artistas e suas obras nesse território, pressupõe a participação da comunidade e a colaboração com centros culturais – institucionalizados ou independentes – e artistas locais.


Especial: 8ª Bienal do Mercosul por superalbertofilho

Como diferencial da Bienal do Mercosul, seu Projeto Pedagógico contempla atividades de formação de professores e mediadores, oficinas, palestras, seminários, publicações destinadas a diversos públicos e, especialmente, a programação da Casa M - um espaço de encontro para a comunidade artística local, pessoas interessadas em arte e cultura, professores e estudantes de arte e áreas afins.
Para além do período da 8ª Bienal, a Casa M terá a duração de sete meses, oferecendo à comunidade oficinas, conversas, cursos para professores, residências curatoriais, um programa de exposições na vitrine da casa e apresentações artísticas de diversas linguagens. O local contará com um espaço de convivência, biblioteca e sala de leitura, pátio, ateliê, entre outros ambientes.
Baixe o Catálogo da 8ª Bienal Mercosul clicando aqui

VENEZA

A principal exposição de grande porte no exterior é a 54ª edição de Bienal de Veneza. ILLUMInations é a premissa conceitual proposta pela curadora suíça Bice Curiger, aludindo ao Iluminismo, à Renascença e às idéias clássicas. A exposição faz uma reavaliação da modernidade ocidental através da arte contemporânea, incluindo também três pinturas do mestre Tintoretto, entre as quais A Última Ceia.


54ª Bienal de Veneza por superalbertofilho

A mostra central ocupa todo o Pavilhão Central da Bienal, que fica no Giardinni - um imenso parque às margens do Grande Canal. Fora do Giardinni, a Bienal continua no Arsenale, antigo entreposto de sal. Nos dois espaços, 82 artistas de vários países (sendo 32 deles, jovens nascidos depois de 1975) têm a tarefa de construir a espinha dorsal desta edição.
Gravitando em torno deste eixo central, a Bienal de Veneza conta com alguns países com pavilhões próprios - como o Brasil, que tem localização privilegiada dentro do conjunto e é representado por Artur Barrio. Não há brasileiros na mostra principal, mas para as paralelas foram escolhidas duas artistas brasileiras: Rivane Neuenschwander e Cinthia Marcelle. Neuenschwander participa de uma coletiva com curadoria de Rosa Martínez, que já foi co-curadora da Bienal de São Paulo, e Marcelle vai expõe numa mostra organizada pelo Pinchuk Art Centre, sediado em Kiev, na Ucrânia.


Pavilhão do Brasil, Veneza 2011 por superalbertofilho

Como a Bienal ainda atribui prêmio, o cobiçado Leão de Ouro, há sempre uma grande expectativa em tono do artista vencedor e do melhor pavilhão. Este ano, o Leão de Ouro para melhor participante nacional foi para a Alemanha, representada este ano pelo artista Christoph Schlingensief, que morreu em agosto passado.
Christian Marclay pela sua peça The Clock, de 2010, em exposição no Arsenale, recebeu o Leão de Ouro de melhor artista, enquanto o Leão de Prata foi para o jovem promissor artista Haroon Mirza.
O júri também atribuiu duas menções especiais, uma ao Pavilhão da Lituânia, que foi representada por Darius Miksys, e uma à peça Untitled (Trashcan) de Klara Lidén, exposta no Arsenale. Adicionalmente e conforme a proposta de Curiger, os artistas Sturtevant e Franz West receberam Leões de Ouro de Carreira.


3 - 54th Art Biennale, Venice 2011 por superalbertofilho

LYON

No dia 15 de Setembro a Bienal de Lyon abriu as suas portas ao público. A argentina Victoria Noorthoorn, com residência em Buenos Aires e Nova Iorque, foi escolhida como curadora desta 11ª edição do evento, que tem direção artística de Thierry Raspail.
O título desta mostra é Une terrible beauté est née / Uma Terrível Beleza Nasceu, uma citação do poema ‘Páscoa’ (1916) de W.B. Yeats, sobre a revolta de centenas de rebeldes que exigiam a libertação da Irlanda pelos ocupantes britânicos. Indeciso, o poema se move entre afirmação, questionamento e negação.


Bienal de Lyon 2011: Promenade por superalbertofilho

Neste sentido, o título da Bienal é mais uma ferramenta metodológica do que um tema. Questiona o poder do paradoxo, a contradição, a tensão e a ambivalência, e também o atual estado de emergência sentido no mundo e nas artes.
Com mais de 200 obras expostas, a bienal ocupa quatro espaços da cidade francesa: Sucrière, Musée d’art contemporain de Lyon (MAC Lyon), Fondation Bullukian e l’Usine T.A.S.E., em Vaulx-en-Velin – até 31 de Dezembro de 2011.
O evento reúne 77 artistas de 25 países, que operam noções distintas e complementares: construção e destruição. Esse conceito está presente nos poemas do brasileiro Augusto de Campos estampados em dez paredes da exposição, revelando sua forte concepção estética e sua crítica ao uso tradicional da escrita.


Bienal de Lyon 2011: obras por superalbertofilho

A primeira experiência na sede da Sucrière vem na sonoridade da obra da brasileira Lenora de Barros, "O Encontro Entre Eco e Narciso", uma instalação com vozes e luzes, baseada na mitologia grega. O ambiente de mistério, onde uma voz recita frases nem sempre compreensíveis, dá o tom da mostra.
A seleção de artistas brasileiros ainda inclui Cildo Meireles com sua obra "A Bruxa" - um cabo de vassoura de onde saem dois quilômetros de fios negros, que invadem e transformam as demais obras da sala, e Laura Lima, que questiona o espaço expositivo com o "Puxador" - que dá a um homem nu a impossível tarefa de mover as colunas do local.
Esse tipo de procedimento permeia a montagem de forma coesa, apontando que a arte existe para criar conflitos - é uma bienal essencialmente política sem que nada seja literal.

ISTAMBUL

A Bienal de Istambul é considerada uma das mais independentes do gênero, na medida em que procura apresentar a arte como uma atividade crítica e experimental, evitando transformá-la em espetáculo.
Sem título, sem lista de artistas pré-divulgada, sem catálogo preparado antes da montagem, sem performances nem seminários, a 12ª Bienal de Istambul é aberta ao o público, fugindo do espetáculo. O visitante entra em dois armazéns do porto da cidade turca, deixando para trás a imponente Mesquita da Vitória para encontrar uma arquitetura simples, com salas sustentadas por placas de aço no exterior.


Bienal de Istanbul, 2011 por superalbertofilho

Há 20 meses preparando a exposição, que vem se destacando no calendário internacional por seu caráter experimental, o brasileiro Adriano Pedrosa e o costa-riquenho Jens Hoffmann concentraram as obras num só espaço - uma novidade desde que a bienal foi criada em 1987, e um contraste com a mais famosa e pomposa bienal do mundo, a de Veneza. Durante a exposição, até 13 de novembro, não haverá eventos paralelos - apenas mostras em museus e galerias -, caso raro entre as bienais.
“Há uma proliferação de bienais, e muitas acabam aprisionadas por aspectos como divulgação dos artistas, estratégias de marketing e títulos muito vagos, às vezes poéticos, às vezes políticos. Nossa proposta é uma resposta a isso" - explica Pedrosa, que no ano passado criou com Hoffmann um cartaz listando as diversas de bienais de arte existentes hoje.


2 - 12th Istanbul Biennial 2011 por superalbertofilho

Na verdade, a exposição tem um título: "Untitled (12th Istanbul Biennial), 2011" - ou "Sem título (12ª Bienal de Istambul), 2011". Mais do que ironia, o nome é uma referência a Félix González-Torres (1957-1996), que batizava suas obras de "Untitled" seguido de uma palavra ou uma frase entre parênteses. Nascido em Cuba, o artista - que viveu em Porto Rico e se radicou nos EUA em 1979 - é a grande inspiração dos curadores, que escolheram cinco de seus trabalhos como ponto de partida para criar cinco mostras coletivas, cada uma com um tema.
Em torno das mostras gravitam cerca de 50 exposições individuais, em salas de diversos tamanhos, na estrutura elaborada pelo japonês Ryue Nishizawa, arquiteto vencedor do Prêmio Pritzker. Apesar de a bienal ter nascido de González-Torres, não há obras dele na mostra, apenas textos dos trabalhos que inspiraram os curadores. Eles não explicam o que o espectador vê, mas refletem os temas que norteiam a exposição.

CHEGOU A VEZ DO BRASIL NO MERCADO INTERNACIONAL?

De acordo com Tanya Barson, curadora de arte latino-americana da galeria britânica Tate Modern, a arte brasileira tem hoje um impacto muito mais amplo no circuito internacional do que em qualquer outro momento de sua história.


A colecionadora e diretora da feira internacional de arte de São Paulo (SP Arte), Fernanda Feitosa, concorda. Ela diz que, desde que o evento foi criado, há cinco anos, o número de galerias participantes dobrou, e o público também. E lembra que um dos marchands mais famosos do mundo, o britânico Jay Jopling - dono da galeria londrina White Cube e figura-chave nas carreiras de Damien Hirst e outros grandes nomes da arte britânica -, esteve na SP Arte em abril desse ano. "Achei muito sintomático que o Jay Jopling, ícone da arte dos anos 90, tenha dedicado uma semana da agenda dele ao Brasil".


A presença de Jay Jopling na SP Arte também chamou a atenção do jornal alemão DieWelt, que publicou uma reportagem afirmando que a arte do Brasil teria alcançado reputação sem precedentes no mundo e citou, além da visita de Jay Joplin à SP Arte, a exposição do brasileiro Cildo Meireles na galeria britânica Tate Modern, ano passado (um recorde de audiência) além da presença de cada vez mais obras do Brasil no acervo da galeria. O valor das obras no mercado internacional, disse o jornal, também estaria subindo.

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